“Quando todas as pessoas pensam igual, eu desconfio de que ninguém esteja pensando.” (Walt Lippman)
Nesse artigo, eu vou desafiar o senso comum, vou na contramão de todos os educadores financeiros.
Continue lendo este artigo para saber:
- Por que eu invisto 100% do meu patrimônio em ações;
- A única função que os títulos públicos podem desempenhar na sua carteira de investimentos;
- Por que os títulos públicos não protegem o seu padrão de vida no futuro;
- O grande risco oculto na dívida pública brasileira;
- Que não há nenhuma oportunidade com a Taxa Selic nas alturas
- Parece interessante? Então, compartilhe com seus amigos:
Por que eu invisto 100% do meu patrimônio em Renda Variável?
“Não importa se você está certo ou errado. O que importa é o quanto você ganha quando está certo e o quanto você perde quando está errado.” (George Soros)
Essa frase do megainvestidor George Soros mostra que devemos ter em mente os riscos e o retorno de um investimento qualquer.
E a verdade é que a Renda Fixa tem uma péssima relação risco-retorno.
Eu poderia investir em Renda Fixa. Se eu estiver certo e tudo for bem, se a situação econômica do Brasil melhorar, o máximo que podemos ganhar é 14,25% ao ano em juros no Tesouro Selic.
Obs.: Para o investidor mais ativo, que gostam de especular com títulos pré-fixados, eu digo o seguinte. Um título pré-fixado vale exatamente R$1.000 na data de vencimento. Aconteça o que acontecer. Por isso, seus ganhos são limitados a esse valor.
No mercado de ações, os nossos ganhos são ilimitados.
Porém, se eu estiver errado e o Brasil continuar estagnado, as chances de calote são muito grandes.
Pelo respeito que eu tenho ao meu patrimônio, eu jamais recomendaria correr o risco de um calote para ter uma possibilidade de ganhos limitada.
Certa vez, o bilionário Luiz Barsi foi perguntado sobre qual era o percentual ideal para investir em ações. Ele respondeu sem titubear: “100%”
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A única função que a Renda Fixa desempenha na sua carteira
Todos os investidores precisam de uma reserva de liquidez, que pode ser utilizada para despesas emergenciais ou ocasionais, como viagens.
A reserva de liquidez é um dinheiro que pode ser gasto a qualquer momento. Portanto, não é um valor que deve ser investido.
E é exatamente por isso que eu recomendo títulos de renda fixa pós fixados, como o Tesouro Selic.
O interessante do Tesouro Selic é que, no dia seguinte, você tem um pouquinho a mais que no dia anterior. E, por isso, você pode investir nesse título o dinheiro que você está guardando para uma viagem ou para outro plano que tenha um prazo pré-definido.
Porém, se o seu objetivo é enriquecer, seja lá para o que for: pagar uma faculdade para seus filhos, ter uma aposentadoria tranquila, você precisa investir em ações.
O mito do ativo livre de risco
O sonho de todo investidor é confiar que existe um ativo que ele pode comprar e simplesmente dormir tranquilo sem se preocupar com riscos. Se existe um ativo com essas características, tenha certeza de que são ações de boas empresas.
Em primeiro lugar, os títulos públicos e os CDB de primeira linha são títulos de dívida de instituições (o governo e bancos). Portanto, o retorno do seu investimento depende da capacidade dessas instituições de te pagarem de volta. E isso deve ser sempre questionado por um investidor sério.
O governo, em geral, é tido como um devedor que sempre vai pagar suas dívidas, porque ele tem o poder que nenhuma outra empresa da sociedade que possui: a tributação. Com isso, ele poderá passar a conta da dívida pública para toda a sociedade do futuro.
Porém, a tributação tem um limite. As pessoas não gostam de pagar impostos. Quanto maiores as alíquotas, maior também é a sonegação e a evasão de divisas.
Além disso, muita gente simplesmente deixa de produzir porque não vale a pena. Com isso, quanto maiores as alíquotas, menor é a riqueza produzida no país. Esse fenômeno é conhecido como Curva de Laeffer.
Devido à Curva de Laeffer, os governos nunca terão o poder de tributar arbitrariamente sua população para pagar suas dívidas. E é justamente por isso que os governos já quebraram muitas vezes.
A Figura 1 traz a relação de calotes de dívidas públicas de diversos países até 2008. Ela foi retirada do livro “Oito Séculos de Delírios Financeiros” dos autores Reinhart e Rogoff.
Quando alguém vier falar de ativo livre de risco, nunca se esqueça dessa tabela.
A propósito, acredito que o autor do livro foi bastante gentil com o Brasil por não considerar o calote de 1990. Certamente, alguns podem argumentar “confisco não é calote”. Não contestarei esse argumento. Se o leitor se sente mais confortável em ter seu dinheiro confiscado, sinta-se à vontade.
Diante da Figura 1, podemos dizer que o Brasil teve 8 calotes na Renda Fixa nos últimos 116 anos, o que dá uma média de um calote a cada 14 anos. Vale lembrar que o Brasil está há 16 anos sem calote. Ou seja, já passou da hora.
Ou você é daqueles que pensa que dessa vez vai ser diferente?
O mito da Renda Fixa
Muitas pessoas gostam de investir na Renda Fixa, porque gostam de ver o seu dinheiro pingar um pouquinho a cada mês. Sentem aquela ilusória sensação de que estão ficando mais ricas com o passar do tempo.
De acordo com um dos meus maiores mestres, Mark Ford, você realmente deve se tornar um pouco mais rico a cada mês. Essa é a chave para a independência financeira. Porém, note a diferença: você deve se tornar mais rico, de fato, não se enganar de que está ficando mais rico.
A Renda Fixa tem oferecido retornos fora do comum. Porém, não se iluda. Os juros estão altos porque a inflação está alta. E só.
Não é porque o governo está sendo responsável. Não é porque os juros estão seguindo a oferta e demanda por empréstimos. Não. A inflação está alta, logo os juros devem estar altos.
Com a inflação nas alturas, o seu ganho ao investir em títulos públicos e outros ativos de Renda Fixa tende a ser completamente corroído por ela e pelos impostos.
Um estudo do Rendimentos Reais mostrou que, quanto maior o IPCA, maior será o imposto de renda pago sobre a reposição do índice de preços, o que reduz o rendimento real de todos os títulos.
Até mesmo das antigas NTN-B, atualmente Tesouro IPCA+, que são consideradas protegidas contra a inflação.
O fato é que, com os juros em alta, os rendimentos nominais disparam. Porém, os rendimentos reais ficam mais baixos do que o que sempre foram. É verdade que a Selic está em 14,25% ao ano. Porém, o IPCA está 10%. Sendo assim, o seu ganho real é de apenas 2,1% considerando o imposto de renda de 15%.
Quem comprou LCI e LCA (títulos isentos de imposto de renda) não escapa desse cenário, porque os juros dessas aplicações acompanham o CDB, afinal são produtos concorrentes do mesmo banco. A maior prova disso é que as diferenças de rendimentos entre LCI e CDB nunca foram tão grandes.
Atualmente, é comum um banco oferecer 90% do CDI em uma LCI e 100% do CDI em um CDB. Dessa maneira, os rendimentos da LCI estão muito próximo aos rendimentos do CDB, como sempre foram.
Esclarecendo o fato de que os juros reais no Brasil estão baixos como sempre foram, gostaria de lembrar que a ideia absurda de reduzir os juros está rondando o Congresso Nacional com frequência.
O PSDB, liderado por Aécio Neves e Daniel Coelho, tem feito uma forte campanha pela redução dos juros. Vale lembrar que juros artificialmente baixos foram os maiores causadores da crise econômica em que o Brasil está agora.
Portanto, guarde bem o que está escrito a seguir:
Não existe nenhuma oportunidade especial na Renda Fixa. Se você quer enriquecer, esqueça a palavra oportunidade. Abrace a palavra disciplina.
O IPCA reflete a sua vida?
Quando falamos do assunto inflação, as pessoas costumam associar ao aumento de preços. Porém, inflação não é isso.
Inflação é o que acontece quando o governo imprime dinheiro.
E por que o governo faria isso?
A resposta é simples: porque o governo frequentemente gasta mais do que arrecada. E, para pagar suas contas, ele precisa literalmente imprimir dinheiro.
Porém, a inflação geralmente é medida por um índice associado aos preços, conhecido como IPCA (índice de preços ao consumidor amplo).
Teoricamente, o IPCA mede a variação dos preços dos principais produtos que compõem o orçamento de uma família.
No IPCA, estão incluídos itens como: alimentação e bebidas, transportes, habitação, saúde e cuidados pessoais, vestuário, comunicação e educação.
De acordo com dados do Trading Economics, o IPCA registrado no Brasil em Fevereiro de 2016 foi 10,36% ao ano.
Porém, a sua vida ficou mais do que 10% mais cara em relação ao ano passado? A sua gasolina aumentou mais de 10% de preço? A carne que você come aumentou mais de 10%?
Gostaria que você respondesse a essa pergunta. Antes de passar por qualquer tabela ou gráfico: você acredita que o aumento do seu custo de vida foi superior ao IPCA?
Agora que você já entendeu que o IPCA não reflete o aumento de custos da sua vida, eu vou revelar o maior risco por trás de uma estratégia de investimentos baseada em títulos públicos.
O rendimento dos títulos públicos tem o IPCA como referência. O Tesouro IPCA+, o título preferido dos brasileiros, é diretamente baseado nesse índice.
Porém, a própria Taxa Selic e o CDI são diretamente influenciados pela inflação. E, por isso, os rendimentos de todos os títulos públicos e privados levam em conta esse indicador.
Porém, como o IPCA é um índice adulterado, a consequência é que a Renda Fixa não vai manter seu poder de compra no futuro.
O que a Lei de Goodhart tem a ver com seus investimentos
Gostaria de mencionar a célebre Lei de Goodhart, que diz que, quando o governo passa a regular um determinado ativo financeiro, esse ativo deixa de ser confiável como indicador de tendências econômicas.
Tome como exemplo o comportamento da despesa com pessoal do estado de Minas Gerais. Devido à Lei de Responsabilidade Fiscal, o gasto com pessoal não pode ultrapassar 60% da receita corrente líquida do estado.
Observe que, até 2010, esse percentual vinha crescendo até beirar os 60%, quando teve uma queda brusca e depois continuou a crescer.
O que teria causado esse comportamento no ano 2011? Uma queda nos gastos públicos ou um aumento de arrecadação?
Na verdade, nenhum dos dois. A queda é explicada pela alteração do cálculo da meta, que passou a excluir os gastos com inativos do gasto com pessoal.
A alteração da medida deu uma folga ao estado para conceder novos aumentos e contratações. Porém, distorceu completamente o propósito do indicador.
O mesmo é válido para o famoso superávit primário. Em primeiro lugar, considere a seguinte família:
O que você diria do orçamento dessa família? Ele está equilibrado? Você realmente consideraria empresta parte do seu suado dinheiro para essa família?
Uma pessoa sensata diria que a família gasta R$12 mil por mês, mas ganha apenas R$10 mil. Portanto, está gerando R$2 mil por mês de déficit e, por isso, vai precisar a constantes endividamentos.
Porém, se você for um economista do governo, vai dizer que a família tem um superávit primário de R$500 (R$10 mil – R$9,5 mil), o que equivale a 5% da receita.
Um economista do governo diria que a família em questão está saudável e reserva 5% do seu orçamento para pagar juros da dívida.
Agora imagine que as despesas correntes da família tenham crescido e que eles resolveram promulgar uma lei excluindo as despesas com a reforma da casa das despesas correntes.
Tudo isso para apresentar um superávit primário melhor para bancos e instituições financeiras que financiam as dívidas dessa família. Parece sensato?
No dia 11 de Novembro de 2014, a presidente Dilma Rousseff encaminhou o projeto de lei – PLN 36/2014 – , o qual pretende alterar o Art. 3º da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que trata das deduções do gasto para fins do cálculo do primário.
Na prática, isso significa que o governo pôde abater até R$122,89 bilhões (soma dos gastos do PAC e das desonerações) da meta de R$116,072 bilhões.
Apesar disso, o Brasil foi incapaz de apresentar superávit primário em 2014.
O fato de o governo utilizar constantemente o superávit primário como indicador econômico fez que ele deixasse de servir qualquer dado útil para a avaliação das contas públicas.
E ainda precisamos nos lembrar do dado que realmente importa: o déficit nominal, que inclui os gastos com juros de dívidas. Em Outubro de 2015, foi divulgado um dado assustador: o déficit nominal do governo chegou a 9,2% do PIB.
Imagine que você precise tome mais de 9,2% a mais do seu salário para pagar todas as suas despesas, incluindo os juros da dívida. Isso parece equilibrado?
Você emprestaria dinheiro para uma família assim?
Conclusão
A Renda Fixa não vai proteger o seu patrimônio. O governo brasileiro está quebrado e as chances de calote não são desprezíveis.
A alta inflação corrói o rendimento dos títulos públicos.
Por isso, é muito importante que você procure novas oportunidades de investimentos.
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