O Brasil se Tornou Não-Investível?
Uma das principais preocupações no radar de investidores atualmente é a questão da segurança jurídica no Brasil. A recente disputa entre Elon Musk e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), gerou uma repercussão significativa no exterior. Mais do que um embate jurídico, esse episódio suscitou dúvidas sobre a estabilidade do ambiente de negócios no país. Aqui não estamos avaliando as decisões em si, até porque não possuímos a capacidade técnica na área jurídica para tal, mas estamos buscando entender as suas repercussões desses acontecimentos no mercado.
Uma das repercussões que mais chamaram a atenção do mercado é a fala do influente investidor Bill Ackman, que afirmou publicamente que o Brasil pode se tornar um "mercado impossível de investir". Ackman, que administra US$ 18 bilhões em sua gestora e tem uma fortuna estimada em US$ 4,2 bilhões, usou suas redes sociais para alertar sobre os riscos que a insegurança jurídica representa para o mercado brasileiro. Vale ressaltar que sua publicação teve um grande alcance, potencializado pela sua audiência de 1,4 milhão de seguidores no X (antigo Twitter). Essa percepção de insegurança jurídica tem circulado entre investidores brasileiros e estrangeiros.
Em nossa opinião, ainda é cedo para afirmar que essa percepção será suficiente para afastar de forma definitiva os grandes investidores internacionais. Contudo, não podemos ignorar que o fluxo de capital estrangeiro, por diversos fatores, tem diminuído no Brasil nos últimos meses, o que pressiona o dólar para cima e impacta negativamente a bolsa de valores. O movimento de retirada de recursos por parte dos investidores internacionais contribui para um ambiente de maior volatilidade e incerteza, embora não possamos ainda fazer uma correlação direta entre esses fatos e o cenário jurídico atual.
No entanto, na nossa visão, o investidor deve agir com cautela. Embora a percepção negativa sobre o Brasil tenha ganhado força, é fundamental manter uma postura analítica e não tomar decisões impulsivas. O Brasil ainda oferece oportunidades, e é importante considerar o quadro mais amplo antes de reavaliar completamente o país como um destino de investimento como o que ventilado por Bill Ackman. Acreditamos que uma postura paciente e criteriosa pode ser a melhor estratégia neste momento.
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Mudança de Rumo – Alta da Selic é Dada Como Certa
Outra questão que tem impactado significativamente o mercado brasileiro é a expectativa de uma elevação da taxa Selic. O Boletim Focus, que reúne a expectativa de diversas instituições a respeito do futuro do PIB, Selic e IPCA, tiveram mudanças drásticas nessas 2 últimas variáveis, com projeções apontando para uma taxa Selic de 11,25% ao final de 2024. Isso marca uma mudança drástica em relação às previsões iniciais do ano, que indicavam uma Selic em queda, chegando em 9% ao final de 2024.
Na nossa opinião, essa revisão nas expectativas de mercado está fundamentada em três fatores principais. Primeiro, a inflação brasileira tem se mantido consistentemente acima da meta, o que gera uma necessidade de ação mais firme por parte do Banco Central. Embora a inflação esteja controlada em comparação aos piores momentos da pandemia, ela ainda representa uma ameaça significativa para a economia. A persistência de pressões inflacionárias exige uma política monetária mais rigorosa, o que justifica a expectativa de alta nos juros.
O segundo ponto, na nossa visão, é a mudança na diretoria do Banco Central, com a entrada de Gabriel Galípolo como novo presidente. A transição de liderança sempre traz incertezas, e acreditamos que o mercado está exigindo um “voto de confiança” do novo presidente. A elevação da Selic seria uma forma de mostrar que o Banco Central permanece comprometido com o combate à inflação e que não haverá relaxamento nas políticas monetárias. Esse “teste” de confiança será crucial para determinar o tom da política monetária nos próximos meses.
Por fim, há a questão do aquecimento da economia brasileira. Embora o baixo nível de desemprego e o crescimento do PIB sejam boas notícias, esses fatores também podem gerar pressões inflacionárias adicionais. Há indícios de que a economia está operando acima de sua capacidade produtiva, o que resulta em inflação de demanda. Diversos indicadores, como os produzidos pela FGV Ibre, mostram que o crescimento do PIB está acima do PIB potencial. Ou seja, acima da capacidade da economia crescer sem gerar inflação, o que reforça a necessidade de controle monetário. Em nossa opinião, o Banco Central deve adotar uma postura conservadora para evitar que a economia se sobreaqueça.
Dado esse contexto, acreditamos que a alta da Selic na próxima reunião do Copom (18/09) é praticamente inevitável.
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Com a Alta de Juros, Como se Posicionar nos Títulos de Renda Fixa?
A elevação dos juros cria um cenário de maior atratividade para os investimentos em renda fixa, e faz com que os títulos pós-fixados pareçam, à primeira vista, a opção mais vantajosa. No entanto, temos algumas considerações sobre essa classe de ativos, levando em conta as condições do mercado e a oferta e demanda por esses títulos.
Nos últimos meses, com o aumento da demanda por títulos pós-fixados, os spreads entre títulos públicos e privados têm se reduzido, o que torna menos atraente o investimento em títulos de renda fixa privada. A diminuição dos spreads significa que o prêmio de risco oferecido pelos títulos privados está cada vez mais próximo do oferecido pelos títulos públicos, que apresentam um risco significativamente menor.
Nesse contexto, fizemos uma série de cálculos considerando um cenário pessimista de inflação e Selic superiores à média projetada pelo mercado. A conclusão é que, embora à primeira vista os pós-fixados possam parecer a opção mais óbvia em um ambiente de juros em alta, acreditamos que o equilíbrio entre diferentes tipos de títulos de renda fixa ainda é essencial.
Não recomendamos, por exemplo, “dobrar a aposta” em CDBs pós-fixados, justamente por essa redução vista nos spreads. Nossa avaliação é de que, nos preços atuais, ainda há boas oportunidades, tanto em títulos prefixados quanto em IPCA+, mas é preciso estar atento aos movimentos do mercado e às possíveis alterações nos spreads.
Atualmente, as taxas encontradas no mercado mostram que os títulos prefixados oferecem rentabilidades de até 13% ao ano, enquanto os títulos atrelados ao IPCA podem render entre 7% e 8% acima da inflação ao ano. Ou seja, são taxas que justificam a continuidade do investimento nesses ativos, mesmo se a Selic suba para além do patamar atual.
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Corte de Juros nos EUA e Seus Impactos
A desaceleração da economia americana, vem alimentando expectativas de cortes na taxa de juros até o final de 2024. Um dado especialmente preocupante é o de criação de novas vagas de emprego, o payroll, que vem desacelerando mês após mês.
A diminuição na criação de empregos sugere que o Federal Reserve precisará ajustar sua política monetária para evitar um esfriamento mais acentuado da economia. Nesse contexto, o mercado já precifica pelo menos três cortes de juros até o final do ano, iniciando com uma redução de 0,25 ponto percentual em setembro.
Com isso, o cenário para a renda fixa nos EUA começa a se transformar. Assim como já observamos no Brasil, os spreads dos títulos de renda fixa vêm caindo, refletindo uma menor remuneração para o investidor. A janela para aportes nesses ativos, que até recentemente ofereciam retornos mais robustos, está se fechando rapidamente. Na medida em que o Fed iniciar o ciclo de cortes, a rentabilidade desses títulos deve cair ainda mais, tornando a renda fixa uma opção menos atraente para quem busca retornos elevados.
Por outro lado, a queda dos juros pode beneficiar ativos como ouro e bitcoin, já que são ativos que não possuem carrego, ou seja, não pagam juros aos investidores e competem com a remuneração do tesouro americano em alta. No entanto, esse cenário só será favorável se a economia americana evitar uma recessão severa. Se a desaceleração econômica for mais acentuada do que o previsto, a aversão ao risco pode aumentar, diminuindo o apetite por ativos alternativos.
Ainda acreditamos que o momento é atrativo para aportes em bonds prefixados no exterior. Com os juros em patamares elevados e a expectativa de quedas futuras, esse tipo de ativo oferece uma oportunidade interessante para travar retornos antes da redução da taxa básica. No entanto, reforçamos que essa janela também está se fechando, e a oportunidade de garantir bons rendimentos em bonds prefixados pode não durar muito mais tempo.
Além disso, é necessário ponderar bem a alocação do capital, evitando empresas endividadas e sensíveis ao ciclo econômico e controlando a exposição total por empresa para reduzir o risco de crédito.