Panorama do Mercado - Junho 2024

André Falcão, CGA
Economista
14/6/2024

Panorama do Mercado

Por que a bolsa está em queda se o PIB está em alta?

A discrepância entre o desempenho do PIB e da bolsa de valores é uma questão recorrente no mercado financeiro. O PIB do Brasil apresentou um crescimento acima do esperado no primeiro trimestre de 2024, com resultado de 2,5% em 12 meses, acima da expectativa do mercado que era de 2,2%. 

Figura 1: Resultado do PIB brasileiro em 12 meses por trimestre

Porém, a bolsa de valores está em queda esse ano, acumulando resultado negativo de 9,63%. Isso ocorre porque a bolsa de valores não reflete diretamente o desempenho econômico de curto, mas sim as expectativas futuras dos investidores, e há diversos fatores que estão tornando essas expectativas pessimistas. 

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Figura 2: Desempenho do Índice Ibovespa em 2024

Assim, mesmo com um PIB acima do esperado este ano, se as perspectivas para economia, especialmente para os juros, nos próximos anos forem pessimistas, a bolsa tende a cair. 

Vamos aprofundar esses fatores.

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O cenário brasileiro é realmente ruim?

Podemos resumir o cenário atual da seguinte forma: 

Os juros estão muito altos, bem acima dos juros neutros, que é o juro que não estimula nem desacelera a economia. Isso significa que o custo de financiamento é elevado, desestimulando investimentos e consumo e, consequentemente, freando o crescimento econômico.  Além disso, 0s últimos 2 meses foram de pioras expressivas na expectativa de juros. Em março, o boletim Focus previa que a Selic terminaria 2024 em 9% a.a., a projeção mais recente é a taxa que termine o ano em 10,25%.

Figura 3: Expectativa de Juros pelo Boletim Focus vs Taxa Neutra

A economia brasileira está passando por um cenário de desalinhamento entre a política fiscal e a monetária. A primeira é expansionista, com gastos elevados, e a segunda é contracionista, com juros altos. A falta de coordenação entre política fiscal e monetária pode gerar um cenário de volatilidade e incerteza. Onde nem os objetivos de crescimento são alcançados de forma sustentável, nem o objetivo de estabilidade da moeda é facilmente atingido. Isso, sem dúvidas, afeta negativamente o mercado financeiro.

Contudo, a inflação está relativamente controlada, o que é um ponto positivo. Mas dado o risco fiscal e os juros altos nos Estados Unidos, a Selic não tem tido espaço para quedas adicionais, já que isso poderia desencadear uma desvalorização ainda maior do câmbio, com a migração de recursos para os EUA de juros a 5,5% a.a. e a volta da inflação. 

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Figura 4: Inflação pelo IPCA (Fonte: Banco Central)

O que precisa acontecer para a bolsa subir?

Para que a bolsa volte a subir, é necessário que os juros nos EUA caiam, aliviando a pressão sobre os mercados emergentes, incluindo o Brasil, e tornando os ativos locais mais atrativos. É claro, no Brasil, uma indicação de controle fiscal também seria bem-vinda para o mercado de ações.

O que pioraria o cenário?

O cenário pode piorar se os juros nos EUA permanecerem mais altos por mais tempo, o que manteria a pressão sobre as moedas emergentes e continuaria a atrair capital para os EUA, desvalorizando ainda mais o real. 

Além disso, a incapacidade do governo brasileiro de controlar os gastos públicos pode levar a uma deterioração fiscal, aumentando o risco país e a aversão dos investidores. Por exemplo, se houver uma percepção de que o atual arcabouço fiscal não é sustentável e que será descartado, a antecipação de seu colapso pode gerar grande volatilidade nos mercados.

Vale a pena continuar investindo em ações?

Para o investidor de longo prazo, as ações são uma das principais formas de conseguir retornos superiores à renda fixa. Mas fazem isso através do chamado “prêmio de risco”, que nada mais é que uma recompensa em retorno pelo risco maior de se investir na renda variável. 

Desde a criação da Múltiplos, nossas ações recomendadas têm entregado esse retorno acima da renda fixa e até mesmo do próprio índice Ibovespa, conforme Figura 5. Contudo, isso não impede meses ou até mesmo anos negativos, como 2022 ou o resultado até o momento em 2024, com queda de 2,97% contra -9,63% do Ibovespa.

Figura 5: Rentabilidade das ações recomendadas em relação ao Ibovespa e o CDI

Dito isso, quem está investindo para longo prazo e não tem intenção de resgatar o dinheiro das ações, pelo menos, nos próximos 10 anos, está diante de um cenário onde as empresas brasileiras estão extremamente subavaliadas, como podemos ver no indicador CAPE, índice de preço/lucro ajustado pela inflação. Ou seja, fazer aportes agora é comprar empresas em um momento relativamente barato.

Figura 6: Indicador CAPE das ações brasileiras e americanas ao longo do tempo

Além disso, as ações escolhidas pela Múltiplos possuem maior qualidade que o mercado em geral, o que justifica a rentabilidade superior ao Ibovespa ao longo do tempo.

Figura 7: Principais indicadores da carteira recomendada em relação ao Ibovespa

Em suma, temos argumentos favoráveis para o aporte em ações pensando a longo prazo. Porém, os riscos citados anteriormente permanecem e é impossível prever o movimento do mercado no curto prazo. 

Gestão de risco é essencial, isso quer dizer que estar investindo no tamanho adequado à sua tolerância ao risco é fundamental para ser um investidor ser bem-sucedido e ter tranquilidade nos investimentos. 

Além disso, o fator diversificação é crucial para lidar com os maus momentos do mercado. Por exemplo, ponderar a exposição em ações com ativos dolarizados, como ações americanas, bitcoin e ouro, ajuda o patrimônio investido a ter maior consistência e proteção em caso de piora no cenário econômico e político brasileiro.

Eleições Americanas: as semelhanças de Biden e Trump

O cenário eleitoral de 2024 nos Estados Unidos está dominado pela disputa entre Joe Biden e Donald Trump, dois candidatos com visões políticas distintas, mas que compartilham algumas semelhanças em decisões econômicas e geopolíticas. 

Ambos enfrentam críticas por sua indisciplina fiscal, o que pressiona a dívida pública americana e pode, eventualmente, desvalorizar o dólar no mercado global. Essa situação fiscal delicada coloca ainda mais pressão sobre o Federal Reserve (FED), o banco central americano, que se torna uma peça-chave na definição dos rumos da economia global.

Joe Biden, apesar de adotar uma postura mais comedida, manteve muitas das restrições comerciais impostas por Trump à China. Sua política externa segue um caminho avesso ao regime chinês, preservando as sanções e as barreiras tarifárias que foram características da administração anterior. Isso demonstra uma continuidade na desconfiança em relação à China, refletindo uma preocupação bipartidária com a segurança nacional e a integridade das cadeias de suprimentos. Biden, no entanto, busca fortalecer alianças e manter uma postura mais diplomática em comparação ao seu rival republicano.

No âmbito fiscal, tanto Biden quanto Trump demonstram uma tendência expansionista, com políticas que aumentam o déficit público. Biden promoveu pacotes de estímulo econômico e investimentos em infraestrutura, enquanto Trump focou em cortes de impostos e despesas militares. Essa indisciplina fiscal tem aumentado significativamente a dívida pública dos Estados Unidos, que já ultrapassa 100% do PIB. A manutenção de déficits elevados e o custo crescente da dívida, especialmente com as taxas de juros mais altas, geram preocupações sobre a sustentabilidade fiscal a longo prazo.

O Federal Reserve, portanto, assume um papel ainda mais crucial na definição do impacto da economia americana no cenário global. Sendo o guardião da moeda mundial, suas decisões sobre as taxas de juros são observadas de perto. O foco dos mercados não está apenas nas políticas econômicas dos candidatos, mas principalmente nas ações do FED. 

A questão que paira sobre os mercados é quando e em que medida o FED irá cortar as taxas de juros. A expectativa é que qualquer ajuste possa ter repercussões significativas nos fluxos de capital global e na estabilidade econômica de mercados emergentes, como vimos ao longo deste relatório em relação ao Brasil.

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