Panorama do Mercado - Fevereiro de 2025

André Falcão, CGA
Economista
24/2/2025

Início do Governo Trump

O primeiro mês da nova administração dos EUA foi marcado por diversas medidas ainda confusas para os investidores. Naturalmente, com a dificuldade de tomar nota e prever as derivadas de cada uma dessas medidas, é de se esperar volatilidade nos mercados. Ou seja, os preços estão errantes.

Abaixo, um resumo das principais medidas tomadas até o momento:

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Tabela 1: Principais medidas da administração Trump até agora. Fonte: Revista Exame

Passando por alguns pontos-chave:

O Departamento de Orçamento e Gestão Econômica (DOGE), sob a liderança de Elon Musk, propôs medidas drásticas para conter a dívida pública por meio de cortes de gastos, privatizações e reestruturação de passivos. Apesar do discurso otimista, a matemática fiscal é ousada, com o objetivo de economizar US$ 2 trilhões sem aumentar impostos ou cortar benefícios sociais. Isso significa mais de 5% do PIB da maior economia do mundo.

Já a imposição de tarifas sobre importações gerou efeitos mistos. Por um lado, protege indústrias locais, mas, por outro lado, eleva custos de produção, pressionando a inflação e reduzindo a competitividade. O dólar segue estável frente à maioria das moedas globais, como visto do dólar index, que mede o desempenho do dólar com uma cesta de moeda, especialmente, do euro. Porém, em relação ao real brasileira, a queda foi acentuada em 2025, acumulando -7,56% até o momento. Nesse caso, as razões parecem locais (abordaremos mais à frente no relatório).

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Figura 1: Variação do dólar contra o real e do dollar index nos últimos 12 meses. Fonte: TradingView.

O dilema central é: Trump quer um dólar forte, que atrai capital e controla a inflação, ou um dólar fraco, que impulsiona exportações e a indústria? Até agora, não há definição clara. Mas boa parte das medidas tomadas até agora, como impostos da importação e restrições a imigração, vão contra um dos principais motivos da sua eleição: a insatisfação da população com a inflação elevada no governo Biden.

Paralelamente, o Federal Reserve, banco central americano, pausou a trajetória de corte de juros com taxas entre 4,25% e 4,5% a.a., visualizando riscos inflacionários e o CPI, principal índice de inflação americano, ainda acima da meta.

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Figura 2: Inflação nos EUA acumulada de 12 meses (Fonte: BTG Pactual)

Saiba mais:

Inteligência Artificial e o efeito Deepseek

A revolução da inteligência artificial entrou em um novo patamar com o avanço do Deepseek, concorrente do ChatGPT que conseguiu reduzir significativamente custos de desenvolvimento de software e demanda por hardware sofisticados. O entusiasmo inicial resultou em correções abruptas no mercado. 

Os impactos do Deepseek extrapolam o setor tecnológico. Empresas de diversos segmentos estão revisando investimentos para reduzir custos operacionais, enquanto fabricantes de semicondutores e data centers enfrentam desafios com a possibilidade de uma menor demanda por hardware de ponta. A NVIDIA, empresa que se beneficiou muito do movimento por IA, já que vende os hardwares utilizados por esses aplicativos, sofreu uma queda severa nos momentos após a divulgação do Deepseek.

Figura 3: Performance da Nvidia (fonte: Tradingview)

A lição é clara: em mercados nos extremos e com expectativas infladas, qualquer notícia com aspecto negativo pode gerar uma correção brutal nos preços.

A corrida pela liderança na IA continua dominada por Microsoft, Google e NVIDIA, mas novos players podem remodelar o setor. O impacto da IA na produtividade é inegável, mas a transição será desigual. Tentar prever quais serão os vencedores finais, pode se mostrar uma tarefa ingrata, tal qual no início dos anos 2000 com as primeiras empresas ligadas à internet. 

Em resumo, visualizamos o seguinte cenário no campo internacional:

Saiba mais:

Brasil: Mudança de Narrativa?

A Bolsa brasileira apresentou um dos melhores desempenhos globais em 2025, registrando valorização de aproximadamente 15% em dólares. O real também se fortaleceu no período, recuperando parte das perdas acumuladas em 2024. Esse movimento contrariou o consenso do mercado, que projetava um dólar persistentemente elevado, reforçando a imprevisibilidade do câmbio. 

Os dados mais recentes indicam uma desaceleração da atividade econômica brasileira. Em dezembro, o IBC-Br, proxy do PIB calculado pelo Banco Central, registrou queda de 0,7%, resultado abaixo do esperado. A última leitura do IPCA também veio abaixo das projeções. Apesar do aspecto negativo dessas notícias, devemos lembrar que o Banco Central, ao elevar os juros como está fazendo atualmente, espera exatamente uma desaceleração da economia que contribuirá para o controle da inflação.

Embora ainda seja cedo para cravar uma tendência definitiva, o temor de um regime de dominância fiscal – no qual as ações do Banco Central perdem eficácia no controle da inflação diante do crescimento descontrolado da dívida pública – começa a perder força. Esse receio, que pesou sobre os mercados no final de 2024, agora dá lugar a uma percepção mais equilibrada, que pode estar por trás da queda do dólar.

Contudo, como destacamos à exaustão nos últimos relatórios e apresentações, a situação fiscal é grave e precisa ser endereçada. A sustentabilidade do crescimento econômico exigirá o equilíbrio das contas públicas, o controle inflacionário e a manutenção da confiança dos investidores. Reformas estruturais, caso implementadas, podem fornecer a base para um ciclo de recuperação mais sólido e duradouro. Enquanto isso, a volatilidade seguirá como um fator preponderante no cenário econômico nacional.

Para os investidores, a disciplina e a diversificação continuam sendo pilares fundamentais na alocação de recursos. Evitar narrativas dominantes e manter o foco no longo prazo tende a gerar melhores resultados. 

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