Um Conselho: não conte com a Previdência Social

Thiago Cardoso
Analista CNPI

Se você está confiando sua aposentadoria à Previdência Social ou INSS, você está cometendo um grave erro. Esse artigo mostrará que seu futuro corre muito perigo e que você dificilmente vai conseguir manter um padrão de vida razoável para desfrutar de uma aposentadoria tranquila.

Leia esse artigo até o final para descobrir:

O que você pode fazer para garantir uma aposentadoria com dinheiro

Por que poupar para a aposentadoria?

Casal de idosos preocupados discutindo finanças

Um bom número de pessoas tem a visão do Carpe Diem, que pode ser entendido como aproveitar a vida agora em vez de poupar para o futuro. Essa filosofia parte do princípio que, quando se é jovem, pode-se gastar muito dinheiro com diversão, o que inclui festas, bebedeiras e viagens. Por outro lado, quando se envelhece, esses gastos não fazem mais sentido.

Essa é uma visão triste. A vida deve ser aproveitada em todos os momentos. A juventude é, com certeza, uma excelente fase da vida. Porém, a terceira idade pode ser muito bem aproveitada, pois é uma época que você tem algo que levou a vida inteira para adquirir: experiência.

A experiência fará o seu bom gosto atingir o extremo. E é por isso que eu digo que os idosos também se divertem bastante. Ninguém sabe aproveitar tão bem uma taça de vinho quanto alguém provou os melhores vinhos nos últimos 50 anos.

Além disso, a terceira idade trará outros custos, como gastos maiores com saúde e alimentação. Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), entre as 20 operadoras com maior número de usuários em São Paulo, somente oito comercializam planos de saúde para idosos.

Dentre elas, o preço médio dos planos mais baratos é de R$551,04. A dos planos mais caros é de R$1447,36. Esse valor compromete 99%.

A média dos planos mais baratos compromete 40% da renda mensal dos idosos. No caso dos planos mais caros, compromete 99%.

Como a Previdência Social deveria funcionar

Mulher empilhando moedas em 4 pilhas de forma crescente

Num investimento, o indivíduo deve abrir mão de consumo no presente e utilizar sua poupança para financiar a produção de bens e serviços.

No futuro, ele receberá uma parte dos lucros dessa produção sem que ele tenha a necessidade de trabalhar. Com o crescimento da poupança do indivíduo, ele poderá viver exclusivamente dos rendimentos de suas aplicações.

Sendo assim, um sistema de previdência sustentável funciona à base de investimentos. Dessa maneira, é essencial que os recursos da previdência sejam destinados à produção de bens e serviços.

Um dos melhores exemplos desse modelo é o Chile. Lá, os trabalhadores depositam uma porcentagem de sua renda em uma conta sob seu nome, a qual é administrada por empresas privadas chamadas AFP (Administradoras de Fondos de Pensiones).

Esse sistema incentiva a poupança. As pessoas recebem extratos mensais de suas contas nas AFP informando quanto valem suas economias e quanto receberiam mensalmente caso se aposentassem naquele dia.

Além disso, como toda a poupança era direcionada a empresas, esse sistema possibilitou um grande processo de acumulação de capital no país. Foi essencial para o notável crescimento econômico que o país vivenciou nas décadas de 1990 e 2000.

É interessante notar que o sistema de aposentadoria do Chile não depende de fatores demográficos nem da taxa de fecundidade da população. Como todo indivíduo utiliza a quantia que ele próprio poupou e investiu na sua aposentadoria, ele não depende de que ninguém continue trabalhando para manter seus gastos.

Sendo assim, a previdência chilena é um grande incentivo à conquista da independência financeira.

Como a Previdência Social funciona no Brasil

Homem observando um castelo de cartas, muito maior do que ele, ser levado pelo vento

A Previdência Social tem várias fontes de financiamento, porém todas elas são dos trabalhadores presentes: variam desde a contribuição sobre o faturamento das empresas (PIS e Cofins), a incidência direta do INSS sobre a folha salarial. A lei define o INSS patronal e INSS do empregado.

Tanto o INSS patronal como o INSS do empregado são, na verdade, pagos pelo próprio empregado. Ao contratar uma pessoa, o patrão fará todas as contas de custos que terá com ela. O empregado deverá produzir, no mínimo, aquele valor. Para o patrão, o que importa é que ele gasta R$3 mil por mês com o empregado, não importa se tudo isso vai para o bolso do empregado ou para o governo.

Observe que a previdência é um típico Sistema Ponzi, ou seja, uma pirâmide financeira. Toda a receita auferida pelo sistema serve pagar os benefícios dos que já se aposentaram. Nenhuma receita da previdência é destinada ao setor produtivo.

Esse esquema dependente de constantes fluxos de capital. Os primeiros que ingressam nesse esquema recebem retornos expressivos que vêm do valor pago pelos que entraram depois deles. Todos os sistemas Ponzi são insolventes e, por isso mesmo, são insustentáveis no longo prazo.

Por isso, a Previdência Social só funciona enquanto houver uma considerável população jovem, que pode trabalhar para sustentar os idosos. Porém, à medida que o numero de idosos cresce e as pessoas têm menos filhos, o sistema se torna cada vez mais insustentável.

No caso brasileiro, a pirâmide etária está começando a se inverter. Com o aumento do número de idosos, está aumentando a proporção entre beneficiários e pagadores do INSS. Com isso, o sistema se torna insustentável.

Esse fato pode ser constatado ao examinar a Figura 1, publicada em matéria de o Globo. Essa figura ilustra o crescimento dos gastos do governo com o Ministério da Previdência. Entre 2001 e 2014, a alta foi de 93%, somente superada pela alta nos gastos do Ministério de Educação.

Gráfico ilustrando o Peso das Aposentadorias no Orçamento Público
O peso das aposentadorias no orçamento público. Fonte: O Globo

Com isso, a realidade do sistema de aposentadoria brasileiro é: uma pirâmide financeira fundada em bases frágeis. Com o envelhecimento da população, será ainda mais difícil de esse sistema se manter firme.

Apenas compare esse sistema com o sistema chileno.

Infográfico comparativo entre o sistema de aposentadoria brasileiro e o chileno

As Falhas da Previdência Social

Homem de terno colocando uma nota de euro em um porco e a nota saindo rasgada

No dia 15 de Junho de 2015, o ministro da Previdência Social, Carlos Gabas, afirmou que a idade média de aposentadoria no Brasil é baixa. Segundo ele, as pessoas estão vivendo mais e, até 2060, mantidas as regras de hoje, a situação será insustentável. E é justamente do seu discurso que podemos retirar a principal falha desse sistema.

“Em 2060, teremos 50 milhões a mais de pessoas idosas. Teremos de mudar as políticas de saúde e habitação, teremos de ter um sistema público capaz de atender à demanda. O modelo de repartição, onde os trabalhadores na ativa financiam a aposentadoria de quem está parado não fecha. Já antes de 2030 essa conta não fecha.”

Sobre a questão da geração de empregos, o IPEA afirma que, de acordo com dados do IBGE, a população brasileira chegará ao seu pico populacional em 2030, com cerca de 206 milhões de habitantes. A partir dessa data, o país tenderá a possuir uma população estável de cerca de 200 milhões de pessoas, e a sociedade envelhecerá como um todo. De acordo com essas projeções, em 2030, estima-se que haverá 1,1 trabalhadores economicamente ativos para cada aposentado.

Observe que os segurados da Previdência Social representam um custo. Compare essa situação com a seguradora, que vê os segurados como fontes de receita.

O mais grave problema da previdência é que os benefícios dependem dos trabalhadores na ativa. Não dependem de forma alguma de quanto o aposentado pagou nem por quanto tempo. Obviamente, essa é uma situação irracional.

A nova regra 85/95 estabelece que a soma da idade com o tempo de contribuição das mulheres deve atingir 85 anos e dos homens, 95 anos. Porém, as mulheres vivem mais. Dessa maneira, elas vão receber o benefício por um período mínimo de 5 anos a mais do que os homens. Porém, vão pagar a mesma contribuição.

Nesse momento, algumas pessoas podem achar que eu estou defendendo que as mulheres trabalhem mais. Em hipótese alguma, eu defendo que as pessoas negociem livremente com seus patrões o quanto elas vão trabalhar e o quanto vão receber por isso. Porém, uma verdade sobre o mundo dos investimentos é que um investimento não sabe quem é seu dono. Ela não sobe ou desce porque uma determinada pessoa o comprou. O seu rendimento não depende da sua pessoa, mas sim do próprio investimento.

Dado que a previdência é um sistema de investimentos (ou, pelo menos, deveria ser) é irracional que um certo grupo possa contribuir menos, mas receber os mesmos benefícios.

O mesmo é válido para os grupos chamados de aposentadorias especiais, como os funcionários públicos. Os militares podem se aposentar com apenas 30 anos de serviço, independentemente da idade. Tome o caso de um oficial da Aeronáutica que ingressou na EPCAR (Escola Preparatória dos Cadetes do Ar) aos 14 anos. Ele passou 7 anos estudando: 3 na EPCAR e 4 na AFA (Academia da Força Aérea). Todos esses anos contam para a sua aposentadoria.

Essa situação é irracional, porque o oficial contribuiu uma parte de sua vida como aluno, outra parte como Tenente, outra parte como Capitão. Porém, ele se aposentará (e receberá um salário) de Coronel.

Reconhecemos a importância dos militares aos país. Porém, os investimentos não reconhecem. Não se esqueça disso: um investimento não sabe quem é seu dono.

No setor público, a situação financeira do INSS é ainda mais grave. Estima-se que a quantia gasta pelo INSS para os aposentados da iniciativa privada é a mesma gasta pelo governo para os aposentados do setor público, só que o primeiro grupo corresponde a 28 milhões de pessoas, e o segundo a 2 milhões de pessoas. Ou seja, os servidores públicos aposentados correspondem a cerca 7% dos aposentados, mas consomem 50% dos recursos.

Não dependa dos seus filhos

Em alguns países, como a Coreia do Sul, predomina o pensamento confuciano de que “O sucesso dos filhos é a melhor aposentadoria que os pais podem ter.”  No Brasil, esse pensamento ainda é mais frequente do que pode parecer. Muitos pais pensam em complementar sua renda com presentes financeiros dos seus filhos.

Porém, esse raciocínio é um erro grave. Em primeiro lugar, o objetivo dos pais deve ser proporcionar condições para que os filhos conquistem sua independência financeira. Diante disso, tornar-se um peso para os próprios filhos é um situação que qualquer pai gostaria de evitar.

Além disso, existe sempre o grande risco de que seus filhos não possam mantê-lo na sua aposentadoria. Essa é uma possibilidade frequentemente ignorada, mas que está se tornando cada vez mais comum.

Antigamente, os pais tinham muitos filhos, de modo que eles podiam dividir o trabalho de tomar conta dos pais idosos. Porém, nos tempos modernos, os pais dificilmente têm mais de dois filhos. Quando chegam à velhice, provavelmente os filhos terão seu tempo e orçamento ocupados tomando conta de seus netos.

Uma matéria da BBC mostrou idosas que se prostituíam para sobreviver. “Uma vendedora de Bacchus me disse: ‘Estou com fome, não preciso de respeito, não preciso de honra, só quero fazer três refeições ao dia'”, conta a socióloga Lee Ho-Sun.

Tenha um Plano de Aposentadoria

Tabuleiro com vários maços de dólares dispostos como peças de xadrez. Uma mão está fazendo uma jogada.a

Saber da realidade do sistema público de aposentadoria do Brasil é o primeiro passo. Agora o que você deve fazer é criar seu próprio sistema de aposentadoria.

Um artigo da Infomoney mostrou que é possível viver com uma renda de R$15 mil por mês investindo R$1853 em títulos públicos NTN-B.

Naturalmente, os títulos públicos são um produto do mesmo provedor da Previdência Social: o governo. Portanto, todos os problemas no INSS podem também impactar os títulos públicos.

É por isso que a palavra chave é diversificar. Ao diversificar suas aplicações, comprando ações, títulos públicos, títulos bancários, fundos de investimentos, ouro e moedas, você se protege dos riscos.

Ao garantir várias fontes de renda passiva, será muito mais fácil ter uma aposentadoria tranquila e com dinheiro, que é objetivo de todos.

Por uma Nova Aposentadoria

Boa parte das pessoas apresenta um certo desprezo pela capacidade produtiva dos idosos. O sistema de aposentadoria público compulsório e a visão confuciana de depender do sucesso dos filhos são partes disso. Mostram que muita gente acredita que eles são incapazes de cuidar de si próprios.

Uma prova de que o preconceito contra idosos existe é a seguinte: você conhece alguma loja de roupas voltada para jovens? E para idosos? Boa parte dos empreendedores que sonham com o competitivo mercado de roupas querem entrar no mais competitivo ainda mercado de roupas para jovens. Porém, em muitos casos, os idosos são um público com muito mais dinheiro para consumir do que os jovens, afinal eles trabalharam a vida inteira.

Gostaria de me contrapor a essa linha de pensamento. Além de contar com um sistema de previdência próprio, eu gostaria de recomendar a leitura do livro Adeus, Aposentadoria, de Gustavo Cerbasi.

Um idoso pode continuar tendo sua vida normal bem depois dos 65 anos. Nesse livro, Cerbasi mostra que a melhor aposentadoria para uma pessoa é um novo emprego.

Para Cerbasi, ao se aposentar, você deve utilizar parte de sua poupança para iniciar um trabalho, com o qual você se identifica mais. Naturalmente, é provável que você sinta a necessidade de trabalhar menos, porque já não tem mais o mesmo pique. Mas trabalhe. É uma visão muito interessante.

Gostaria de acrescentar ao livro dizendo que manter-se ativo durante a aposentadoria é fundamental para melhorar sua qualidade de vida. Vários estudos indicam que pessoas com cérebro ativo têm menor possibilidade de sofrer com doenças degenerativas. Por outro lado, basta entregar-se ao cansaço que você verá sua mente atrofiar e sua qualidade de vida ruir.

Ao dizer: “Estou cansado” você realmente estará cansado, mesmo que ainda tenha energia. Por outro lado, ao dizer: “Eu quero viver” você ainda terá energia para viver, mesmo que tenha chegado aos 90 anos.

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