O novo jogo Pokémon Go é uma febre entre os seus usuários.
Invasões de propriedades privadas, acidentes de carro, emboscadas. Recentemente, o simples aparecimento de um Pokémon raro no Central Park fez milhares de pessoas se concentrarem, causando uma grande confusão.
O frenesi em torno do jogo também tem impulsionado as ações da Nintendo na bolsa japonesa. As ações se valorizaram 21,6% em 2016, uma das maiores altas do ano no Japão.
Porém, o que os grandes investidores diriam sobre a Nintendo após o lançamento do jogo?
Se perguntássemos a Warren Buffett, ele simplesmente se limitaria a dizer: “Eu não entendo de empresas de tecnologia. É um assunto complicado demais para mim. Portanto, eu vou me manter em negócios mais simples.”
Por isso, eu resolvi perguntar a Philip Fisher, o maior especialista de todos os tempos em ações de tecnologia. E também um dos mentores de Warren Buffett, sobre o qual Buffett disse: “Eu sou 85% Graham e 15% Fisher”.
Será que Philip Fisher investir na Nintendo após a criação de Pokémon Go?
Continue lendo esse artigo para entender:
- O papel da inovação em um grande investimento;
- Como avaliar o impacto de uma grande inovação no desempenho de uma empresa;
- O fator mais ignorado pelos analistas e investidores;
- O nosso veredito final sobre a opinião de Fisher a respeito da Nintendo;
Como era a Nintendo antes do Pokémon Go
Nos últimos 5 anos, a Nintendo tinha lucros irregulares.
Essa figura criada pelo Terraço Econômico e publicada pela Infomoney ilustra bem a euforia em torno do Pokémon Go e da Nintendo.
Nos últimos 5 anos, o carro-chefe das vendas da companhia era o console Nintendo Wii. Em 2013, após vendas fracas, a Nintendo passou a apostar no Nintendo Wii U.
Em 2014, a chance de falência da companhia era de 75%, que superava até mesmo a Sony, que, na época, era de 46%.
Naturalmente, como investidor em valor, eu advirto que lucros consistentes são uma característica indispensável a um bom investimento.
Por isso, atualmente, a empresa e os seus investidores apostam todas as suas fichas em que o jogo vai recuperar o brilho de outros tempos.
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O papel da inovação em um grande investimento
Vivemos em um mundo capitalista. Quem não inova fica para trás.
É impossível que uma empresa seja um bom mesmo investimento sem inovar constantemente. Acredite, até mesmo a Coca-Cola lança novos produtos.
Em sua obra-prima, Common Stocks and Uncommon Profits, Philip Fisher delineia os quinze pontos:
- A companhia possui produtos e serviços com potencial de mercado suficiente para um bom crescimento de vendas, pelo menos, nos próximos anos?
- A administração tem a determinação de continuar a desenvolver produtos ou processos que irão aumentar as vendas quando o potencial de crescimento do produto atual se esgotar?
- Qual é o esforço da companhia em pesquisa e desenvolvimento, em relação ao seu tamanho?
Esses três pontos tem muito a ver com a inovação.
O Pokémon Go é, sim, um produto que possui um grande potencial de crescimento de vendas. É uma febre nos Estados Unidos e ainda não foi lançado em outros países, nem mesmo no Japão.
Inclusive, as ações da Nintendo desabaram 13% em um dia, porque a companhia atrasou o lançamento do jogo no Japão.
Além disso, é importante destacar o tamanho do Pokémon Go. De nada adianta um lançamento fazer sucesso, se ele não for significativo em relação à empresa.
O jogo caminha para ser o primeiro jogo de celulares a quebrar a barreira dos US$4 bilhões por ano em receitas, superando Candy Crush Saga, segundo pesquisa de mercado da Macquarie Research.
Portanto, a resposta da primeira pergunta é sim. A Nintendo realmente conseguiu um produto com um grande potencial de expansão de vendas para os próximos anos.
- A administração tem a determinação de continuar a desenvolver produtos ou processos que irão aumentar as vendas quando o potencial de crescimento do produto atual se esgotar?
Essa é uma boa pergunta. No mercado de tecnologia e jogos, a inovação não é um diferencial, mas uma necessidade.
Realmente, John Hanke, presidente da Niantic, passou 20 anos estudando e trabalhando para criar um ambiente de realidade virtual.
Pokémon Go é trabalhado com muitos detalhes, como uma grande interação com mapas.
Porém, a grande tacada de mestre da Nintendo foi entender as novas demandas dos consumidores.
O mercado de consoles há muito vinha cambaleando. Anteriormente, seu principal produto era o console Nintendo Wii U, que enfrentava a concorrência do Xbox 360 e do Playstation 4.
A empresa vinha em dificuldades financeiras, e as fracas vendas do console eram apontadas como motivo da demora da recuperação.
Mas, finalmente, a Nintendo entendeu que o principal concorrente eram os smartphones, não outros consoles.
De fato, as pessoas passam mais tempo nos smartphones e, por isso, os jogos que mais vinham fazendo sucesso estavam nessa plataforma, como o Candy Crush Saga.
Dessa forma, olhando somente pelo Pokémon Go, a Nintendo realmente está comprometida com o desenvolvimento de novos produtos para expandir o seu mercado.
Porém, o que vai acontecer depois?
Nada impede que outros concorrentes lancem jogos de realidade virtual e tirem uma fatia de mercado considerável da Nintendo.
Será que ela vai precisar de mais 20 anos de pesquisa com a Niantic novamente?
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Qual é o esforço da companhia em pesquisa e desenvolvimento, em relação ao seu tamanho?
Embora tenha escrito a palavra “esforço”, Fisher está muito mais preocupado com os resultados da pesquisa e desenvolvimento da companhia.
E, nesse ponto, podemos dizer que o sucesso de Pokémon Go, é simplesmente recente demais.
A história da Nintendo antes desse jogo não era nada animadora. Foram anos tentando criar consoles mais poderosos e jogos adaptados.
É verdade que estamos falando de um produto que tem potencial para transformar completamente a empresa, já que está para se tornar o jogo de maior receita anual de todos os tempos.
Porém, será que a Nintendo vai continuar aprimorando o Pokémon Go para que sua fatia de mercado não seja devorada pelos concorrentes?
Hoje em dia, é fácil dizer que sim. Porém, ainda estamos diante de uma euforia e um frenesi. É preciso ver, de perto, o comportamento da empresa.
Por isso, o investidor deve se lembrar que o sucesso vem com anos a fio.
O fator mais ignorado pelos investidores
É o lucro.
E não adianta. No mercado de tecnologia, é praticamente impossível obter lucro rápido.
A regra de que o sucesso chega devagar é ainda mais válida e cruel nesse mercado.
O Facebook, por exemplo, precisou de poucos anos para dominar o mundo. Mas precisou de muito mais tempo para gerar lucro.
Foi necessário um grande esforço para alterar o negócio, criando um modelo mais voltado para anúncios que geram receitas. Esse processo ainda está em construção.
É praticamente impossível contar quantas modificações o Facebook fez em sua própria estrutura até conseguir gerar lucros consistentes.
Se você for um dos mais de 1 bilhão de usuários do aplicativo, com certeza, você já reparou a grande quantidade de mudanças, pelas quais passou essa rede social.
Para obter lucro com o Pokémon Go, a Nintendo precisa seguir o mesmo caminho. É um caminho árduo e tortuoso. Porém, é o único que pode trazer a recompensa para os investidores.
É simplesmente cedo demais para dizer que um simples jogo vai mudar completamente uma grande empresa, como a Nintendo.
Os números do jogo são impressionantes. Está disponível apenas nos Estados Unidos, na Alemanha, na Austrália e na Nova Zelândia. Somente nesses países, já foram contabilizados mais de 15 milhões de downloads.
Porém, até onde isso vai se transformar em lucros para a empresa e para seus acionistas?
Conclusão
O Pokémon Go é um sucesso muito recente de uma empresa que tem um longo histórico de calejamento.
Por isso, eu recomendo muita cautela ao investir em uma empresa como a Nintendo simplesmente por causa de uma inovação.
O tão aguardado lucro extraordinário promovido pelo jogo ainda não apareceu. Não sabemos como a empresa vai se posicionar diante de concorrentes.
Enquanto isso, há muitas opções mais interessantes para investir aqui mesmo no Brasil. Eu estou correndo atrás delas.
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