5 Sinais de que você vai perder muito dinheiro com ações (o #2 é o mais ignorado)

Thiago Cardoso
Analista CNPI
17/4/2016

Você conhece alguém que já perdeu dinheiro no mercado de ações?

Lucas começou a trabalhar e poupar. Sabendo que a poupança é um péssimo investimento, ele resolveu aplicar seu suado dinheiro na bolsa.

Porém, Lucas investiu seu suado dinheiro como se uma ação fosse um bilhete de loteria. Ele comprou empresas e ficou esperando para ver se elas iriam subir ou cair.

Lucas não tinha nenhuma base de investimentos e não sabia qual empresa escolher. Achou que era simplesmente colocar o dinheiro lá e esperar. Não é assim.

Continue lendo este artigo para saber:

#1 Você comprou um negócio que não dá lucro

O objetivo de qualquer negócio é gerar lucro. Ninguém investe dinheiro para obter prejuízos.

Apesar disso, as pessoas têm o hábito de comprar dois tipos de empresas que são claramente péssimos investimentos:

A OGX foi talvez o caso mais emblemático e que afastou muitas pessoas da Bolsa. Por volta de 2011, investir em OGX era chique. As pessoas admiravam a figura de Eike Batista, que dizia que, um dia, a sua empresa valeria mais que a Petrobrás. Um exemplo notável foi o investidor que vendeu um imóvel para comprar ações da empresa. E perdeu tudo.

Porém, os investidores, incluindo grandes bancos, como o Itaú, se esqueceram de um detalhe importantíssimo: a OGX não apresentava receitas.

Na época, a OGX tinha um powerpoint muito bonito em que descrevia regiões onde encontraria rios de petróleo. Nada disso aconteceu.

De lá para cá, a OGX caiu de um máximo de R$22,32 por ação para míseros R$0,03, uma destruição de 99,9% do patrimônio.

Por algum motivo, as pessoas têm uma tara pela empresa falida. Geralmente, essa tara começa em torno daquele sentimento de que tudo vai ser diferente.

O grande investidor John Templeton nos ensinou: “As cinco palavras mais perigosas no investimento são: ‘Dessa vez vai ser diferente’”. Realmente, é uma insanidade esperar resultados diferentes quando não se toma atitudes diferentes.

Um modo muito interessante de se tornar rico é se associar a pessoas competentes. É por isso que recomendamos a compra de ações de boas empresas. Comprar uma boa empresa é colocar pessoas competentes para trabalhar para você.

Analogamente, um modo muito certeiro de se tornar pobre é se associar a pessoas incompetentes.

A despeito disso, sempre vemos empresas altamente endividadas que só têm prejuízo sendo avaliadas a preço de ouro.

Tome o caso da Marfrig (MRFG3), um frigorífico que só tem prejuízo. A despeito disso, as ações MRFG3 passaram de pouco mais de R$4 para quase R$7 entre Maio de 2015 e Março de 2016.

Apesar da expressiva valorização, pouco mudou na empresa. Ela continua uma empresa altamente endividada que não dá lucro. Alguma dúvida de que isso vai cair?

Mensagem Final: É impossível enriquecer tomando prejuízos. Se a empresa não dá lucro, esqueça. Passe para a próxima.

#2 Você comprou um negócio que depende do governo para crescer

Uma empresa deve servir a seus consumidores. São os consumidores que sustentam um negócio e que pagam o salário de todos.

Os consumidores prestigiam as empresas que fornecem os produtos que eles desejam. Ao comprarem e ao se absterem de comprar, os consumidores decidem sobre quem permanece no mercado e quem deve sair.

Enriquecem um homem pobre e empobrecem um homem rico.  Determinam precisamente a quantidade e a qualidade do que deve ser produzido.

São patrões impiedosos, cheios de caprichos e fantasias, instáveis e imprevisíveis.  Para eles, a única coisa que conta é sua própria satisfação.  Não se sensibilizam nem um pouco com méritos passados ou com interesses estabelecidos.

Claramente essa visão sobre o consumidor, descrita pelo economista Ludwig von Mises, é assustadora para qualquer um que entre no mundo dos negócios. O ser humano sonha com a estabilidade.

Porém, a estabilidade não existe para empreendedores. Qualquer empresa no mundo capitalista está a um passo da falência. Basta que ela não seja a que mais agrada a seus consumidores que ela estará fora do mercado.

Por isso, eu recomendo expressamente que meus clientes só invistam em empresas que entendam essa visão.

O meio mais fácil para as empresas de enganar a concorrência e, assim, crescer independentemente de ter de agradar a seus consumidores é fazer acordos com o governo.

De maneira geral, quando o governo tenta proteger (ou estimular) determinadas empresas, isso surte o mesmo efeito de dizer para o seu filho gordo e sedentário que ele é um campeão de atletismo.

Esses acordos podem se dar de várias formas, mas vamos resumi-las:

A ideia da regulação é criar uma reserva de mercado para as empresas amigas do governo. Porém, o principal produto são empresas preguiçosas e bastante incompetentes.

Logo após a aprovação da regulação, é comum que as empresas apresentem um crescimento inigualável, conhecido como Gatilho de Newton.

Porém, em poucos anos, a lucratividade da empresa diminui. A razão para isso é que não há mais incentivos para cortes de custos.

O exemplo mais atual disso é o cartel dos táxis. Em Nova York, uma licença de táxi chegou a custa $1,3 milhões. Com a chegada do Uber, o preço derreteu pela metade.

Na Bolsa Brasileira, podemos destacar os casos das hidrelétricas e da Sabesp. Apesar de serem monopolistas em mercados altamente regulados, essas empresas se tornaram preguiçosas e deram sérios prejuízos aos acionistas nos últimos anos.

A incompetência da Sabesp foi tanta que se refletiu num grave desabastecimento de água em São Paulo, o que compromete ferozmente os lucros da empresa.

No caso do subsídio, a empresa recebe um aporte do governo, geralmente, na forma de um empréstimo barato. Ela pode usar esse dinheiro para investir e crescer.

Na teoria, se bem administrado, poderia render lucros impressionantes ao acionista, já que ele conseguiu acesso a um capital muito barato.

Porém, na prática, as empresas que crescem com subsídios simplesmente perdem o interesse no mercado de ações.

A consequência mais comum disso é que a empresa passa a apresentar um aumento vertiginoso da receita, porém, isso não se reflete em maiores lucros ao acionista.

Tome o caso da Oi. Criada em 2009 com a fusão da Brasil Telecom e da Telemar, a Oi foi o primeiro e mais mal sucedido caso da Política de Campeãs Nacionais.

Com empréstimos subsidiados do BNDES, a Oi iniciou sua jornada de fusões e aquisições a fim de formar uma super tele. Porém, uma gestão precária e uma conduta controversa de pagamento de dividendos arruinaram a empresa.

Foi forçada a vender boa parte de seus ativos, incluindo cabos submarinos e torres de telefonia. Seu valor de mercado caiu 90% e, no final de 2015, sua dívida ultrapassou R$60 bilhões, contra R$966 milhões de valor de mercado.

Quando a administração é precária, nem mesmo R$10 bilhões injetados pelo BNDES vão resolver.

As políticas públicas podem mudar.

As prioridades do governo podem mudar do dia para a noite. Por isso, seu capital jamais pode estar ao sabor dessas mudanças.

Tome o caso das educacionais no final de 2015. Por causa do Fies, empresas como Kroton e Estácio aumentavam seus lucros de 20% a 30% ao ano. Suas ações se valorizavam mais de 40%.

Até 2014, o foco dessas empresas era crescer sem limites e sem preocupações. Elas não precisavam se preocupar nem mesmo com a demanda, pois ela já era garantida pelo governo por causa das bolsas do Fies.

Por isso, as educacionais podiam cobrar o quanto quisessem pela matrícula. Elas sabiam que iam receber do governo e que haveria crédito farto para os alunos.

Não era necessária qualquer preocupação com qualidade. Diretores financeiros eram muito mais importantes do que professores renomados.

O resultado de tudo isso? Em dezembro de 2015, com uma canetada, o governo encerrou o Fies. Uma simples canetada fez que essas empresas experimentassem uma queda brusca nas suas cotações.

Mensagem Final: Uma boa empresa não precisa fazer acordos com o governo. Ela vai se destacar da concorrência oferecendo bons produtos.

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#3 Você comprou uma ação quente.

De tempos em tempos, as pessoas descobrem o investimento do século. É a empresa tal que vai dominar o mundo.

Como dizia Benjamin Graham, “quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam iguais”. É impressionante como as pessoas continuam a cair no conto da ação quente.

As ações quentes estão estampadas no noticiário. Todos os dias, há alguma boa notícia sobre aquela empresa.

Nos anos 70, a moda americana era as empresas de carpete. Logo depois, houve a famosa bolha pontocom (2000). No Brasil, grandes exemplos de setores quentes foram a construção civil (2008 até 2011) e o educacional (até 2015).

O comportamento do mercado a respeito de bolhas em setores quentes é sempre o mesmo. De início, há uma euforia generalizada. As ações se valorizam muito mais que o crescimento dos lucros da empresa. Muitas vezes, empresas que nunca deram lucro são avaliadas como negócios bilionários.

Em 1999, era comum ouvir dizer em Wall Street: “Os lucros não importam.” Esse pensamento é um reflexo de que as pessoas ficaram cegas.

Viam ações se valorizarem 30% ou 40% em um ano e não percebiam que a performance passada não é uma garantia de performance futura. Pura ilusão.

Quando uma ação se tornou quente, passe para a próxima. Se ela está na mídia e nos jornais. Se o seu amigo, que nunca foi um investidor, está falando bem dessa empresa. Passe para a próxima.

Certamente, aquela empresa está cara demais para ser um negócio lucrativo.

O principal reflexo de que uma empresa está muito cara é o múltiplo preço sobre lucro (P/L). O P/L corresponde à razão entre o preço da ação e o lucro da empresa.

Dito de uma maneira simples, o P/L é o número de anos que a empresa demoraria para retornar o investimento, considerando lucros constantes. Por isso, faz mais sentido pagar um valor de P/L alto para empresas de que se espera um crescimento maior.

Peter Lynch utiliza o medidor PEG (razão entre o P/L e o crescimento da empresa). Para Lynch, esse número deve ser pequeno, de preferência, menor que 1.

Dessa forma, se uma empresa tem um P/L 20, ela deve crescer cerca de 20% ao ano. Se ela tem um P/L 30, ela deve crescer cerca de 30% ao ano.

É muito difícil que uma empresa mantenha um ritmo de crescimento superior a 20% ao ano. Por isso, um múltiplo P/L superior a 20 é um bom indicativo de uma bolha.

E se não for uma bolha?

Em alguns casos, o crescimento das empresas é real e decorre do fato de que o setor realmente está crescendo. Tome o caso do setor de tecnologia, que é um dos que mais crescem no mundo.

Porém, mesmo nesses casos, as ações quentes podem não ser tão bons investimentos quanto se pensa.

Quanto mais um setor cresce, mais engenheiros formados no ITA com MBA em Harvard estão tentando descobrir como produzir mais barato em Taiwan.

Em resumo, setores quentes atraem concorrência pesada. Por isso, as empresas podem ser ultrapassadas com relativa facilidade.

Pense nas redes sociais. Apesar de ser um setor em franco crescimento, a maior parte das empresas que se aventuraram nesse setor faliram. O Orkut já chegou a ser a maior rede social do mundo, mas depois foi engolido pelo Facebook.

Esse fenômeno não é nem um pouco recente. O célebre investidor Peter Lynch retrata que, na sua infância, não havia indústria mais quente que o setor de carpetes. Naquela época, todas as donas de casa queriam ter uma parede coberta de carpetes.

Os preços haviam caído de $28 a jarda para $4 devido à descoberta de um novo processo automatizado de produção que reduziu dramaticamente a quantidade de fibra utilizada. Os carpetes haviam se tornado mais baratos que os pisos de madeira.

Devido a isso, a classe média e as massas passaram a comprar carpete em massa. As vendas cresceram, e os 5 maiores produtores “ganhavam mais do que sabiam gastar”. Enquanto isso, os analistas de Wall Street diziam que o boom dos carpetes duraria para sempre.

Porém, os maiores produtores receberam a concorrência de cerca de 200 novos competidores, que lutaram por consumidores reduzindo os preços. Em alguns anos, “ninguém mais conseguiu fazer 10 centavos no negócio de carpetes”.

Mensagem Final: Evite a empresa mais quente do setor mais quente. Se todo mundo está falando bem de uma determinada empresa, provavelmente ela está cara demais para ser um bom investimento.

#4 Você comprou um negócio que não tem tag along

O tag along é uma importante proteção aos acionistas minoritários. No caso de troca de controle, normalmente numa fusão ou aquisição, essa cláusula obriga que o novo controlador estenda a oferta que faz ao antigo controlador a todos os minoritários. Dessa maneira, permite uma saída segura aos minoritários.

Por lei, todas as empresas listadas em bolsa devem oferecer 80% de tag along às ações ordinárias. Isso significa que, caso haja troca de controle, e o novo controlador pagou R$10 por ação do controlador antigo, ele terá que oferecer, pelo menos, R$8 aos minoritários.

Porém, não há nenhuma obrigação de tag along para as ações preferenciais. E é justamente nesse caso que os minoritários podem sofrer perdas severas.

Um dos casos mais conhecidos foi o da Aracruz Celulose, que foi comprada para Votorantim Celulose e Papel (VCP) em 2008.

No ano anterior, a VCP havia fechado um acordo de compra da Aracruz Celulose. No período entre o fechamento do acordo e a efetivação, a Aracruz Celulose se envolveu em operações com derivativos cambiais, nas quais obteve muito prejuízo.

Na manhã do dia 20 de agosto de 2008, a VCP anunciou a compra dos 28% de ações ordinárias detidas pelas famílias Lorentzen, Moreira Salles e Almeida Braga a um preço de R$18,20 por ação.

Por causa do tag along, os minoritários detentores de ON receberam R$14,56 por ação, um considerável prêmio ante os R$5,60 do fechamento do pregão do dia 19. Naquele dia, as ações ordinárias dispararam 100%. Porém, foram só elas.

Os acionistas preferenciais não eram contemplados com o tag along. Por isso, receberam apenas o valor de mercado, cerca de R$1,70. Isso mesmo. Os minoritários receberam cerca de um décimo do que o acionista controlador recebeu.

Você pode se perguntar: que loucura é essa de Antônio Ermírio de Moraes, presidente da VCP? Realmente, não faz sentido para ninguém comprar uma empresa altamente endividada e cheia de prejuízos com operações de derivativos cambiais por um preço muito superior ao valor de mercado.

Porém, há duas explicações para esse fato: a primeira era de que o valor da venda já estava previsto no contrato, e a multa para rescisão deveria ser muito alta;  a segunda é de que o BNDES foi responsável pelo aporte na VCP que permitiu a compra.

É muito mais fácil fazer estripulias com dinheiro subsidiado do que com o seu próprio dinheiro.

De fato, os acionistas minoritários da VCP também sofreram com a notícia da incorporação da Aracruz Celulose. Afinal, a empresa adquiriu um acúmulo de prejuízos.

Nessa história, os minoritários de ambas as companhias se deram mal. Exceto aqueles que foram protegidos por tag along.

Mensagem Final: Tag along é uma proteção indispensável em casos de troca de controle.

#5 A empresa diversifica demais

Peter Lynch cunhou o termo diworseification, que pode ser entendido como diversificar para pior. Um momento crítico acontece quando a empresa já esgotou a capacidade de crescimento num determinado mercado, mas ainda tem o desejo de crescer e remunerar seus acionistas.

Naturalmente, diversificar é importante e, desde que bem feito, pode resultar em conglomerados grandes e lucrativos. Apenas imagine o que aconteceria se a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, tivesse se mantido apenas no negócio de tecidos, ou se a Amazon ainda vendesse apenas livros. Essas empresas jamais alcançariam o grau de sucesso que têm hoje.

Porém, é muito comum ver companhias tentando crescer comprando empresas de setores totalmente desconhecidos por preços astronomicamente elevados. É a receita certa para perdas grandes.

O caso mais famoso de diworseification foram as empresas X. O sucesso que Eike Batista conseguiu com a mineradora MMX o fez pensar que ele conseguiria sucesso em qualquer outra área.

Por isso, o grupo EBX investiu bilhões de reais criando negócios dos mais variados.

A OGX era uma empresa petrolífera. Para começo de conversa, uma mineradora é completamente diferente de uma empresa petrolífera. Porém, esse era o grande sonho de Eike – ter uma Petrobrás.

Porém, o maior erro do EBX foi de negar a divisão do trabalho e criar empresas que cuidassem de toda a infraestrutura necessária para a OGX. Com isso, a OGX continuou a diversificar para pior abrindo empresas como a CCX (carvão), LLX (logística) e OSX (indústria naval).

Todos esses setores nada tinham a ver com o negócio original do grupo EBX – a mineração de ferro. Essa é a receita correta para o fracasso.

Portanto, é fundamental evitar diworseifications, ou diversificações para pior.

Warren Buffett conta que, por muito tempo, acompanhou a Coca-Cola. Ele estava certo de que o negócio era uma mina de ouro.

Porém, a administração da Coca-Cola não concordava com ele. Nos anos 70, sob a liderança do CEO Paul Austin, a Coca-Cola havia acumulado uma cifra de US$300 milhões.

Em vez de investir no próprio negócio, Austin comprou uma série de negócios que nada tinham a ver com as atividades da empresa, incluindo fazendas de camarão, marcas de café particulares e fábricas de xampu para carpetes.

Com isso, a Coca-Cola tinha uma mísero retorno anual de 1% sobre o capital. E, claro, que isso fazia da empresa um péssimo investimento. Somente em 1981, quando Robert Goizueta assumiu a companhia, ele se deu conta de que a empresa era uma mina de ouro.

Já Peter Lynch conta que a General Mills investiu em restaurantes chineses e italianos, churrascarias, brinquedos da Parker Brothers, camisas da Izod, moedas, selos e até outlets Eddie Bauer. Nada disso tinha a ver com o negócio original da empresa.

Mensagem Final: Tome muito cuidado com empresas que querem abraçar o mundo com as pernas. Prefira empresas que focam no seu negócio principal.

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