Nesse relatório trouxemos nossa avaliação dos principais acontecimentos atuais da economia e mercados nacional e internacional.
Cenário Internacional
Quais serão os próximos passos do FED
No dia 27/07 o FED aumentou a taxa básica de juros americana em mais 0,75 ponto percentual, continuando seu processo de controle da inflação. A decisão recente do FED deixa a taxa de juros próxima dos patamares antes da pandemia, quando a instituição estava readequando seus juros após o longo período de taxas próximas a zero como forma de estimular a economia após a crise de 2008, processo interrompido pela reação do banco a pandemia, jogando as taxas a zero novamente.
Porém, Jerome Powell, presidente da instituição, passou uma mensagem confusa no seu último comunicado:
“À medida que a política monetária se aperta ainda mais, provavelmente será apropriado desacelerar o ritmo dos aumentos [de juros] enquanto avaliamos como nossos ajustes estão afetando a economia e a inflação”.
Ou seja, apesar de a alta de juros mal ter começado, o Banco Central dos Estados Unidos já começa a falar em interromper os aumentos. A expectativa do mercado é de um novo aumento da reunião de setembro, mas em menor grau, de apenas 0,5 ponto percentual. Esse sinal de desaceleração na alta de juros, foi um dos fatores que explica a boa performance do mercado de ações americano em julho, o SP500, principal índice de ações dos Estados Unidos, apresentou alta de 7,97% no mês, mas acumula queda de 13,37% em 2022.
Na nossa visão, a fala do presidente do FED não reflete a realidade que os EUA se encontra, com um ambiente propício para uma inflação mais persistente, após anos de expansão monetária. Precisamos estar preparados para uma possível mudança de discurso caso a inflação se mantenha elevada, o que consideramos provável.
Saiba mais em:
- Federal Reserve eleva juros dos EUA em 0,75 ponto percentual, para 2,5% ao ano | CNN Brasil
- Discurso do Fed é incoerente, conflitante e não passa sinal correto, dizem economistas | Finanças | Valor Econômico (globo.com)
- Fed eleva juros dos EUA em 0,75 p.p. e Powell sinaliza ciclo mais brando | Exame
- Powell elevará juros muito mais que mercados esperam, diz ex-Fed | Finanças | Valor Econômico (globo.com)
- O caminho agressivo de aumento da taxa do Fed reforçado pela nova inflação, dados salariais | Reuters
EUA em Recessão Técnica
Após 2 trimestres consecutivos de queda no PIB, a economia americana entra em recessão técnica. Como a nomenclatura já revela, esse é apenas um termo técnico, não significa que a economia está, de fato, em uma recessão, já que esse conceito abrange diversos outros fatores econômicos, como o desemprego e a renda das famílias.
Atualmente o desemprego nos Estados Unidos está em um dos menores patamares da história e a renda dos americanos também se mantém elevada. Ou seja, ainda não é possível afirmar que estamos passando por uma crise econômica. Contudo, as perspectivas para os próximos trimestres não são as melhores, principalmente por conta do fim dos estímulos pelo FED, com a interrupção da compra de ativos e o aumento dos juros com objetivo de controlar a inflação que está no maior patamar desde de a década de 80. É de se esperar que o desemprego passe a aumentar no país nos próximos semestres.
Já é um consenso que a economia americana passará por uma recessão, a dúvida maior é sobre a intensidade e velocidade desse processo. Temos dificuldades em acreditar no que vem sendo chamado de soft landing pelo mercado, um pouso suave da inflação sem impactos severos na economia.
Como temos reforçado em nossos últimos relatórios, os estímulos realizados na economia americana nos últimos anos com a expansão monetária e os juros baixos demais são os principais responsáveis pela inflação fora de controle no país. A continuidade do aumento dos juros nos EUA é essencial para evitar o descontrole da inflação no país.
Saiba mais em:
Tensões se elevam: China – Taiwan – EUA
O clima entre Taiwan, China e o Estados Unidos tem piorado nos últimos dias, com a visita da presidente da câmara dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan. O presidente da China, Xi Jinping, disse em telefonema a Joe Biden, presidente americano, que “quem brincar com fogo vai se queimar”, se referindo à visita da congressista.
Até o momento em que escrevemos esse texto, o mercado parece ignorar os riscos desse possível conflito, com o SP500, por exemplo, apresentando rentabilidade positiva nos últimos 30 dias. Um conflito entre China e Taiwan pode ter impactos severos para o setor de tecnologia mundial, já que a ilha é responsável por 60% da produção mundial de semicondutores, o que pode afetar a produção de eletrônicos e até mesmo automóveis.
Como forma de retaliação, a China tem feito exercícios militares no sudeste de Taiwan e também realizado teste de mísseis na Região, um deles inclusive caiu em território marítimo japonês, aumentando a tensão entre os países.
O pior cenário, sem dúvidas, é o de um possível conflito entre as duas regiões onde os Estados Unidos se envolvam de maneira ativa. Um embate entre as duas maiores potencias da atualidade (China e EUA), seria catastrófico em todos os aspectos.
Saiba mais em:
- Entenda por que viagem de Nancy Pelosi a Taiwan eleva tensão entre EUA e China | Mundo | G1 (globo.com)
- Como a China pode revidar a visita da presidente da Câmara dos EUA a Taiwan | Mundo | Valor Econômico (globo.com)
- China lançará "operações militares direcionadas" após visita de Pelosi | CNN Brasil
- Opinion | Nancy Pelosi: Why I’m leading a congressional delegation to Taiwan - The Washington Post
- Mísseis de exercício militar da China caem em águas do Japão, diz imprensa do país | Mundo | G1 (globo.com)
Cenário Brasileiro
A alta de juros está perto de acabar?
No boletim Focus do dia 29/07, relatório que reúne as expectativas de mercado, era que o ciclo de alta de juros brasileiros seria encerrado hoje com a Selic em 13,75%. Porém, o Copom não confirmou essas expectativas, afirmando em comunicado:
“O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até se consolidar não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião. ”
O fim do ciclo de alta de juros foi postergado com o Copom observando o cenário de inflação mais persistente e o ambiente externo adverso. Contudo, a magnitude dos aumentos já foi reduzida e a expectativa é que se reduza ainda mais na próxima reunião em setembro, provavelmente, um aumento de 0,25p.p. será anunciado nessa reunião, caso não haja nenhuma surpresa inflacionária.
Caso a pausa do ciclo de alta se confirme, não quer dizer que veremos os juros voltando a cair tão rapidamente. O Banco Central deve acompanhar os indicadores econômicos por alguns meses e caso a inflação no Brasil se mantenha persistente, é possível até mesmo que a Selic entre em um novo ciclo de alta, apesar de não ser o cenário mais provável na nossa visão.
Inflação desacelerando. Será mesmo?
Em julho registramos deflação de 0,68%, o que ajudou a reduzir o acumulado de 12 meses do indicador, que hoje está em 10,07%. Essa queda de preços acontece principalmente devido aos cortes temporário de impostos nos combustíveis e energia pela a PEC “Kamikaze”.
Porém, caso o preço do petróleo não reduza no mercado internacional, é provável que tenhamos um novo aumento dos combustíveis no ano que vem caso a medida de redução de impostos não seja mantida. Consequentemente a inflação também pode voltar a subir.
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Resultados recentes da economia brasileira
Até o momento, os dados econômicos brasileiros têm surpreendido positivamente. O desemprego continua em trajetória de queda após os piores momentos da pandemia, essa melhora tem sido causada principalmente pelo o aumento dos trabalhadores informais. Vale lembrar que o fato da inflação estar mais elevada também contribui para a queda no desemprego no curto prazo, relação explicada em economia pela Curva de Phillips, já que a economia fica artificial e temporariamente aquecida pelo aumento do dinheiro em circulação.
Outra notícia positiva é que o PIB do Brasil foi revisado para cima pelo FMI, que prevê agora o País terminando o ano de 2022 com o PIB 1,7% maior que em 2021 – a projeção anterior era de uma alta de apenas 0,8%. No entanto, a instituição cortou a projeção para o PIB de 2023, que caiu de 1,4% para 1,1%, prevendo que a política de juros mais altos do Banco Central brasileiro para controle da inflação cobrará seu preço da economia, desacelerando o ritmo e crescimento brasileiro.
Ainda não visualizamos o cenário de recessão aqui no Brasil, ao contrário do que deve acontecer com Europa e Estado Unidos. Mas devemos esperar economia mais amena e, possivelmente, um desemprego mais elevado para os próximos semestres, refletindo os juros mais elevados.
Saiba mais em:
- Desemprego recua para 9,3% em junho, mas número de informais é recorde, aponta IBGE | Economia | G1 (globo.com)
- FMI eleva projeção de crescimento do PIB do Brasil a 1,7% em 2022 | CNN Brasil
- Juro em alta alimenta aversão a ativo de risco | Finanças | Valor Econômico (globo.com)
- Recessão moderada e juro menor nos EUA favorecem Brasil - 28/07/2022 - Mercado - Folha (uol.com.br)
Como se posicionar
Continuamos a reforçar a importância da diversificação no cenário atual de tensões geopolíticas e previsões de piora na economia. No Brasil, apesar de uma expectativa com a economia relativamente melhor que no exterior, vale ressaltar que devemos ver muita volatilidade adiante, à medida que as eleições se aproximam.
Com o fim do ciclo de alta de juros brasileiro provavelmente próximo do fim, estamos começando a avaliar a possibilidade de investimento em títulos prefixados, que costumam ter um bom desempenho bem em cenários de juros em queda. Fizemos um artigo no nosso blog sobre esse tema, confira abaixo: