A diversificação é um dos conceitos menos compreendidos a respeito do mercado de investimentos.
Há os que diversificam de menos. Há os que diversificam de mais.
Mas poucas são as pessoas que entendem realmente por que elas precisam diversificar. E, assim, torna-se difícil saber a medida correta de diversificação.
Nesse artigo, vamos derrubar alguns dos principais mitos a respeito desse importante conceito dos investimentos.
Ao final desse artigo, você entenderá que os seguintes conhecimentos populares são apenas mitos:
- A diversificação é necessária;
- Existe um investimento seguro;
- O investimento de risco é o caminho para o sucesso nos investimentos;
- Quanto mais diversificação, melhor;
- Quanto mais diversificação, mais segurança.
Mito #1 A Diversificação é necessária
A maior parte das pessoas têm a sua renda atrelada a uma única fonte. Elas não diversificam na sua fonte de renda.
Se a diversificação não é necessária para você ganhar dinheiro e manter a sua vida, por que ela seria para os investimentos?
Tome o exemplo de Bill Gates. Já imaginou o que teria acontecido com a sua carreira se algum orientador vocacional lhe tivesse dito:
“Bill, você é muito inteligente. Não aposte todas as suas fichas na carreira de informática. Será mesmo que as pessoas vão querer usar computadores no futuro?”
Bill Gates mantém até hoje 98% da sua fortuna investida nas ações de sua própria empresa. Warren Buffett defende a diversificação como forma de investimento, mas ele próprio investe 95% do seu patrimônio na Berkshire Hathaway.
Essa tendência será verificada em um grande número de empresários de sucesso. Eles investem todo o seu patrimônio nas suas próprias empresas.
Sendo assim, se você tiver uma empresa, pode ser uma atitude racional investir quase a totalidade do seu patrimônio nela.
Um amigo meu foi demitido em 2015 e aplicou todo o dinheiro que recebeu na sua rescisão somado à poupança que havia juntado para abrir um pet shop.
Em dois anos, ele já estava vivendo do pet shop e retirando mais dinheiro do que conseguia ganhar de salário. Ele nem pensa mais em trabalhar para outra pessoa.
Outro exemplo foi um primo meu que conseguiu um trabalho temporário de 2 anos, juntou dinheiro e resolveu aplicar tudo em livros e cursos preparatórios para concursos públicos. Hoje em dia, ele é procurador.
Portanto, largue o mantra da diversificação.
Porém, o que tem em comum o meu primo, o meu amigo e os milionários citados? Eles tinham um projeto de vida. E eles aceitariam o que viesse daquele projeto.
Quando você entrega a sua vida a um projeto, a diversificação não tem espaço.
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Mito #2 Existe um investimento ultra-seguro
Nunca coloque todos os seus ovos numa cesta só. (Sabedoria Popular)
Porém, a maior parte das pessoas investe praticamente todo o seu patrimônio na poupança ou em aplicações bancárias.
Então, vem a pergunta. A caderneta de poupança é o maior plano pessoal da sua vida? Você realmente está disposto a aceitar o que vier da caderneta de poupança?
Um grande número de brasileiros se ilude que, ao investir na poupança, está abrindo mão de retornos para correr menos riscos.
Porém, a caderneta de poupança não é um investimento ultra-seguro.
Pelo contrário, em 1990, houve o confisco da poupança pelo Governo Collor.
Hoje em dia, ninguém espera que isso vai acontecer. Mas, em 1990, realmente as pessoas esperavam aquilo?
Outro grande problema da poupança é o baixo rendimento em si. Desde 1994, essa aplicação perdeu para o preço do quilo da carne. Ela foi incapaz de preservar seu poder de compra.
Mito #3 O investimento de risco é o caminho para o sucesso nos investimentos
O investimento de risco é uma modalidade sedutora para quem já tem um capital acumulado.
Existem muitos analistas de investimentos que recomendam “ações com um elevado potencial de ganhos, caso um determinado cenário aconteça”.
Se o cenário ideal acontecer, ótimo. Se não acontecer, o investidor pode sofrer sérios prejuízos. Por isso, a recomendação quase unânime é “invista uma pequena porção do seu capital, como uma forma de diversificação.”
Porém, o lendário investidor George Soros nos ensina o contrário.
Nunca invista pouco dinheiro. O trabalho de investir é árduo, portanto a recompensa deve ser grande o bastante para compensar. (George Soros).
O grande problema do investimento de risco é que você o investidor deve alocar apenas uma porção pequena do seu capital nessa modalidade de investimentos.
Mesmo que a tese se prove verdadeira, é inútil conseguir um grande retorno para um pedaço pequeno do seu capital, enquanto que a maior parte dele está sujeita a rendimentos baixos.
Tome como exemplo o caso de Pedro, que tem R$100 mil para aplicar. Pedro aplica os R$100 mil na poupança até que se deparou com um relatório de um analista que dizia:
A Companhia X tem suas dívidas em dólar. Com a queda do dólar, as suas despesas vão despencar e, por isso, a ação tem grande potencial de valorização.
Essa é uma tese típica de investimento de risco. Ela depende do preço do dólar. Se o dólar realmente baixar, a ação se valoriza. Caso contrário, a ação pode virar pó, já que a empresa é altamente endividada.
Por isso, a recomendação do analista é que Pedro invista apenas 5% do seu capital, ou seja, R$5 mil.
Suponha que a tese se comprovou. Nesse caso, Pedro triplicou o seu capital em um ano. Os R$5 mil viraram R$15 mil. Ótimo, não é?
Mas e o que aconteceu com o total do patrimônio de Pedro? O dinheiro que estava na poupança rendeu apenas 8%. No total, Pedro ficou com R$117 mil.
Mesmo tendo acertado a tese, Pedro conseguiu um retorno total de 17%, o que é bem menos expressivo que o retorno que ele esperava com o seu investimento de risco.
Parece um rendimento decente. Porém, quantas vezes essa situação vai se repetir? Será que Pedro vai conseguir acertar com consistência e regular a próxima ação que vai se multiplicar por 3 rapidamente?
A experiência nos mostra que não.
Os investidores de sucesso, por sua vez, como o próprio George Soros, são completamente avessos a perdas.
O investidor mediano está sempre preocupado com o que pode ganhar e, por isso, busca o risco como uma forma de aumentar seus rendimentos.
Porém, o investidor de sucesso respeita o risco. Ele procura por investimentos com uma boa relação risco-retorno para que ele possa investir uma parte considerável do seu patrimônio.
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Mito #4 Quanto mais diversificação, melhor
Quando chegam ao mercado de ações, as pessoas tendem a achar que precisam construir uma carteira muito diversificada. Porém, o célebre investidor Peter Lynch nos ensina que:
Ter ações é como ter crianças: não se envolva com mais do que o que você consegue lidar.
Para Lynch, um investidor comum jamais terá tempo de ler relatórios, balanços e notícias relacionadas a uma carteira de 50 ou 100 empresas.
Mas o investidor Philip Fisher, um dos maiores nomes do investimento em crescimento, vai além:
Eu não quero ter um grande número de boas ações. Eu quero ter um pequeno conjunto de ações extraordinárias. (Philip Fisher)
Philip Fisher defendia uma análise profunda nas ações, de modo a encontrar uma excelente relação risco retorno.
O que é mais fácil: encontrar 10 empresas com um elevado potencial de crescimento ou encontrar 100 empresas?
O que é mais fácil: encontrar 10 empresas com as contas equilibradas e com baixo possibilidade de falir ou encontrar 100 empresas?
Diante disso, Fisher recomenda que o investimento conheça muito bem as empresas que está escolhendo.
Somente dessa forma ele pode encontrar a ação ideal, uma empresa com um elevado potencial de retorno, mas sem grandes riscos associados, como uma dívida muito grande.
Diante disso, podemos citar Warren Buffett:
A diversificação é uma proteção contra a ignorância. Faz pouco sentido quando você sabe o que está fazendo. (Warren Buffett).
Mito #5 Quanto mais diversificação, mais segurança
A Teoria Moderna de Portfólio (TMP) estabelece que a diversificação aumenta a segurança das carteiras.
Um grande número de pessoas incorporou esse conceito, mas sem entender absolutamente nada da teoria que o originou.
Entre os fundamentos da TMP, estão que:
- O risco do investidor pode ser medido pela variância das carteiras. Isto é, pelas oscilações dos preços das ações;
- Os preços das ações são variáveis independentes estatisticamente.
Com efeito, é possível demonstrar que a diversificação diminui a variância das carteiras com simples conhecimentos de estatística.
No entanto, a TMP possui um fundamento errado. Os preços das ações não são independentes. Existem muitos movimentos de mercado que influenciam todos os preços.
Por exemplo, o aumento na Taxa Selic faz que todos os investidores em ações considerem investir em títulos públicos. Com isso, os preços de todas as ações devem baixar.
Além disso, a sólida teoria de investidores de valor entende que diminuir a volatilidade é um objetivo errado.
Nunca abra mão de maiores retornos por conta de volatilidade. (Barton Biggs)
Tome como exemplos os investidores da Raia Drogasil (RADL3), que foi uma das melhores ações da Bolsa nos últimos 10 anos.
Observe que a ação oscilou bastante. Porém, o investidor que a manteve por um longo período de tempo conseguiu auferir retornos elevados.
Lembre-se:
Renda variável varia. E pode, inclusive, oscilar para baixo, sem explicação alguma.
O investidor de sucesso deve confiar na sua tese de investimentos. Caso a ação continue em queda, o melhor que ele pode fazer é aproveitar o momento para comprar mais.
Por isso, a maior segurança no mercado de ações é saber o que está fazendo.
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Por que diversificar?
Não se deve confundir esse texto com uma apologia ao investimento em um único ativo.
A diversificação é extremamente importante no mercado de investimentos, porque você não tem controle sobre as empresas.
Por melhor que seja a sua análise em relação a uma empresa, a administração pode tomar rumos diferentes do que foi combinado.
Por exemplo, não é raro eu receber e-mails surpresa de empresas que adquiriram outras.
Uma compra é uma parte muito importante da estratégia de uma empresa, mas o acionista minoritário não é nem mesmo consultado a respeito disso.
Os efeitos dessas tomadas de decisão por parte da administração podem ser até mesmo benéficos, porém estão totalmente fora do seu controle.
Por isso, é bastante prudente manter um nível adequado de diversificação.
O próprio Peter Lynch aconselha que os investidores comuns acompanham de 8 a 12 empresas e mantenham apenas 5 em seu portfólio.
Os investidores Anthony Bolton e Philip Fisher jamais mantiveram mais de 30 ações no seu portfólio, não sendo raras as vezes em que tiveram apenas 5.
A carteira de ações da Múltiplos busca por ações espetaculares, com uma excelente relação risco-retorno.
Como exigimos bastante qualidade dos nossos ativos, é difícil encontrar em quantidade. Por isso, temos um portfólio concentrado de 5 a 10 ativos.
Quer saber como investir com qualidade com uma carteira balanceada e alinhada aos seus objetivos? Agende uma conversa com a nossa equipe.
Conclusão
Esse artigo serviu para desafiar o senso comum dos investidores a respeito da diversificação. Podemos sintetizá-lo em algumas conclusões bem importantes:
- A diversificação é uma ferramenta que não deve ser utilizada cegamente em investimentos;
- Não existe um investimento ultra-seguro. O que existe é o comodismo disfarçado de conservadorismo;
- O investimento de risco, muitas vezes, não proporciona um retorno adequado, porque você nunca vai investir uma porção significativa do seu capital nele;
- O investidor não deve abrir mão de retornos melhores por conta de volatilidade em nome da diversificação;
- Não vale a pena investir em ativos inferiores só para aumentar a diversificação da sua carteira;
- O excesso de diversificação pode distrair o investidor de acompanhar de perto os seus ativos. Portanto, você não deve ter mais ativos do que é capaz de acompanhar;
- A diversificação não aumenta a segurança da sua carteira, quando você não sabe o que está fazendo;
- Diversificar é importante, mas é preciso se libertar das ilusões comumente propagadas a respeito dessa ferramenta.