Esse texto é extremamente importante. Se as pessoas tivessem consciência do que vai ser escrito aqui, não mais teriam medo de investir. Milhões de reais não seriam mais perdidos na Bolsa por causa de investimentos tão obviamente ruins que poderiam ser descartados em 1 minuto de raciocínio.
Nesse artigo, você entenderá:
- O principal conceito de um investidor de sucesso;
- A importância de saber o que está comprando;
- Como evitar prejuízos no mercado de ações.
A mentalidade do investidor de sucesso.
Na célebre carta “Os Superinvestidores de Graham-Doddsville” – disponível aqui em português, Warren Buffett conta o que o autor Adam Smith escreveu sobre Walter Schloss em 1972:
“Ele não possui conexões ou acesso a informações de grau de investimento. Quase ninguém em Wall Street o conhece e ele não recebe quaisquer sugestões. Ele procura números em manuais e manda buscar os relatórios anuais, e isso é tudo.”
Walter Schloss foi um dos mais lendários gestores de fundos de investimentos. Possuía um histórico tão bom que não cobrava taxas de administração. Seu fundo cobrava apenas 20% dos lucros. Em outras palavras, se o fundo não lucrasse, Walter não recebia um tostão ao longo do ano.
Ao contrário do que muita gente pode imaginar, boa parte dos mais bem-sucedidos gestores de fundos não possuíam acesso a informações especiais. Buffett, por exemplo, até hoje não utiliza computador em seu escritório.
Os investidores mais bem-sucedidos ou, como disse Warren Buffett, os Super-investidores de Graham-Doddsville, simplesmente têm mente dois conceitos muito claros: preço e valor.
O investidor de sucesso se concentra simplesmente em dois conceitos: o preço de um ativo e o valor.
O preço é algo objetivo, é o que você precisa pagar para adquirir o investimento ou o que você recebe caso queira se livrar dele. O preço depende do mercado e das pessoas. Quanto mais pessoas estiverem dispostas a comprar, mais aquilo custa.
Já o valor é totalmente subjetivo. Depende da avaliação que o investidor faz daquela empresa. O valor de uma empresa depende da sua capacidade de gerar lucros futuros, não depende do mercado. Isso é extremamente importante.
O investidor de sucesso é aquele que procura discrepâncias entre preço e valor. Quando o preço de uma ação está inferior ao seu valor, ele aproveita o momento para comprar. Caso contrário, quando o preço está superior ao seu valor, ele aproveita para vender o ativo e embolsar lucros.
A grande vantagem dessa abordagem é que você se afasta completamente da multidão. A grande multidão é capaz de influenciar os preços dos ativos, porém nada pode fazer para alterar o valor deles.
Se você concorda com essa visão até aqui, tudo o que eu vou lhe escrever nas próximas linhas parecerá extremamente óbvio. Certamente, você se perguntará: claro, como é que eu nunca pensei nisso antes?
Não se assuste. O mundo dos investimentos será fácil e você obterá retornos maiores. Você se tornará um viciado em pesquisar sobre empresas e comprar suas ações.
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Preço é o que você paga.
Imagine que você comprou um apartamento por R$400 mil. Na semana seguinte, alguém lhe oferece R$380 mil. Você aceita? E se outro comprador aparecesse oferecendo R$350 mil, você aceitaria? Novos compradores chegam e oferecem R$320, R$300 mil? R$270 mil? Última oferta: R$250 mil. Você aceita? É sua última chance de vender o apartamento.
A grande maioria das pessoas teria muita facilidade de negar todas essas propostas. Porém, se não fosse um apartamento, mas ações de uma empresa sólida, elas venderiam. É curioso isso.
Certo dia, eu me deparei com a seguinte imagem na tela do home broker. Todas as ações que estava monitorando estavam caindo. No mês, o Ibovespa caiu 4,28%. Algumas ações caíram 20%.
Porém, o que essa imagem muda na minha vida? É verdade que os preços dos ativos continuam caindo. Mas uma ação não é um tíquete de loteria, mas sim uma participação numa sociedade. Sempre que você comprar uma ação, não se esqueça da empresa que está por trás dela. Enquanto os preços sobem e descem, a empresa continua produzindo e gerando valor. E é isso o que vai te gerar riqueza.
Tudo o que a tela do home broker informa ao investidor é o preço dos ativos. Uma corretora tem a função de facilitar que o investidor compra e venda o ativo quando desejar. Portanto, é tudo o que ela pode te informar: o preço. E mais nada.
O preço é o que você paga. É o que as pessoas pagam para levar seu patrimônio. Muitas pessoas acompanham o saldo da carteira com muita ansiedade. O saldo da corretora é o somatório dos preços das suas ações em carteira multiplicadas por quantas ações você tem de cada empresa.
Mas isso não significa absolutamente nada. Não são os preços de seus ativos que constroem a sua riqueza e o seu patrimônio. Preços não tem nada a ver com patrimônio. Aliás, os preços representam apenas o que as outras pessoas estão dispostas a pagar para dilacerar o seu patrimônio.
"Preço é o quanto as pessoas estão dispostas a pagar para destruir o seu patrimônio"
Guarde isso. Se possível, imprima essa frase. O preço é o que você paga. Ou o que pagam para você. O preço das ações não tem nada a ver com o seu patrimônio.
Valor é o que você leva.
Voltando ao exemplo do apartamento. Por que a grande maioria das pessoas se recusaria a vender o apartamento por um preço baixo? Certamente, porque elas entendem o valor do apartamento.
O economista Ludwig von Mises deu a explicação definitiva do que é uma compra. Segundo ele, as pessoas compram um determinado bem quando dão mais valor ao bem do que ao dinheiro que pagaram por ele. Para Mises, essa simples afirmação se aplicava a qualquer bem de uma economia. Quando os consumidores não são forçados a comprar o bem, eles só pagarão por ele se realmente aquela compra maximizar o conforto de uma pessoa.
Como as pessoas são diferentes, eles agirão de forma diferente para atingir o máximo conforto. Tome o exemplo da construtora, que construiu o prédio. A incorporadora se preocupa em construir prédios de valor para entregar a seus clientes. Caso contrário, não conseguiria vender.
Porém, a incorporadora acredita que fará melhor se ela se concentrar em sua atividade principal, que é construir prédios. Além disso, ao vender os prédios, ela obterá um caixa, que poderá utilizar para construir novos prédios. Por isso, apesar de o apartamento que ela construir ser um bom investimento, a própria incorpora julga que terá melhores oportunidades ao manter-se na sua atividade.
Por outro lado, o investidor que adquiriu um apartamento acredita que aquele investimento é o que de melhor poderia fazer com seu dinheiro. Se ele comprou um apartamento por R$400 mil, ele acredita que o apartamento vale mais do que isso. Portanto, jamais venderia aquele apartamento por um valor inferior.
Se muitas pessoas ligarem oferecendo valores abaixo, é provável que ele troque de celular para não se aborrecer com tantas ofertas ruins.
O investidor está muito mais interessado nos ganhos de longo prazo. Recomendo ler o artigo Como Diferenciar um Investimento de um Golpe em que falamos como, de fato, funciona o investimento em ações. A Figura 3 traz um resumo desse processo.
Como mostrado na Figura 2, o investimento funciona numa dinâmica de juros compostos. Isso acontece, porque as empresas reinvestem lucros, já que só distribuem uma parte dos lucros aos acionistas.
Por isso, o verdadeiro investimento não tem prazo. É exatamente como disse Warren Buffett: “o investimento em ações deve durar tanto quanto um casamento católico, a vida inteira”.
O investidor deve definir critérios de investimentos, escolher empresas que atendam a esses critérios e mantê-las enquanto atenderem. O investir só vende as ações se as empresas deixarem de atender aos critérios de investimentos.
Observe que a Figura 3 não faz nenhuma referência ao preço das ações. Tudo o que interessa ao investidor é o valor da empresa que adquiriu. O valor da empresa pode ser entendido como a capacidade que aquela empresa tem de produzir bens e serviços que sejam úteis aos seus consumidores.
No longo prazo, o preço é amarrado ao valor.
No curto prazo, Benjamin Graham definia o Sr. Mercado como um sujeito maníaco-depressivo. Em alguns dias, ele estava eufórico, via oportunidades de crescimento em qualquer tipo de empresa, por isso oferecia preços altíssimos pelas ações. Em outros dias, ele estava depressivo, perdia a confiança no futuro e era capaz de se livrar de boas empresas por um preço ridiculamente baixo.
O interessante desse pensamento é que Graham vai pela contramão de tudo o que os analistas e a grande maioria dos sites de análises de ativos dizem. A grande maioria das pessoas está interessada em prever o mercado. Ou seja, prever os preços das ações no futuro. Porém, o futuro não é previsível.
Em vez de tentar adquirir ou prever a sabedoria do mercado, é muito mais interessante você se ater ao que realmente lhe interessa: a carteira. O investidor em ações não deve se guiar pelo conhecimento dos outros. Pelo contrário, deve aproveitar os momentos em que os outros investidores estão depressivos para comprar empresas sólidas, isto é, com muito valor, por um preço baixo. E também aproveitar os momentos em que os outros investidores estão animados para vender as empresas por um preço alto.
Dessa maneira, o investidor se concentra exclusivamente naquilo que lhe interessa: o valor das empresas, das quais é sócio.
A partir desse conhecimento, podemos começar a analisar empresas, fundamentos. Toda a teoria desenvolvida por grandes investidores, como Philip Fisher, Peter Lynch, Warren Buffett, Benjamin Graham e Walter Schloss, não faz nenhum sentido se o investidor não entender qual é o seu propósito.
Ninguém precisa prever o futuro.
É provável que você tenha medo de investir porque lê os noticiários sobre o mercado de ações e eles estão sempre focados em prever o futuro.
Porém, Warren Buffett dizia sempre: “As previsões falam mais sobre o analista do que o futuro.” Perfeita colocação.
Warren Buffett e toda a Escola Fundamentalista, da qual eu sou um ardente seguidor, sabem que não somos capazes de prever o futuro. Portanto, não nos preocupamos com isso.
Tudo o que se deve procurar é por empresas que tenham bons fundamentos. Empresas bem administradas saberão lidar com crises de uma maneira muito mais fácil do que empresas mal administradas.
No seu livro Ação Humana, o economista Ludwig von Mises mostra que o valor de todos os bens é totalmente subjetivo. Como exemplo, pense numa guitarra de R$500 autografada por Jimmy Page.
Para a grande maioria das pessoas, entre as quais eu me incluo, aquela guitarra não teria valor adicional algum. Porém, fãs do músico podem estar dispostos a comprar aquela guitarra por R$10 mil ou até mais.
O mesmo é válido para ações. Pessoas diferentes avaliam as empresas de forma diferente. Suponha que a ação PETR4 está negociando a R$5. Se você avalia a empresa a R$4, nada impede que outros investidores avaliem o ativo em R$6 ou R$8. Por isso, o ativo pode se valorizar. E você não perdeu nada com isso. Você não precisa estar certo em tudo. Não precisa ser o primeiro a acertar.
Da mesma forma, se você acredita que um determinado ativo vale R$8 e ele cair abaixo disso, aproveite para comprar mais. Pensar que seu investimento é ruim por causa do preço é uma excelente maneira de perder dinheiro.
Na Múltiplos, quando compramos uma empresa, nunca dizemos que ela vai subir. Dizemos apenas que ela está barata e que possui valor. Quando compramos notas de R$100 pagando apenas R$50, é muito provável que algo de bom vai acontecer no futuro.
Não fazemos previsões, porque ninguém é capaz de prever o futuro. Por isso, nos concentramos no que sabemos fazer: entender o valor de uma empresa.
A falácia do risco e retorno
Ainda na magnífica carta “Os Superinvestidores de Graham-Doddsville”, Warren Buffet destrói um dos maiores mitos do mercado de investimentos: a relação entre risco e retorno.
A compra de uma nota de US$1 a sessenta centavos é mais arriscada do que a compra da mesma nota por quarenta centavos, mas a expectativa de recompensa é maior no segundo caso. Quanto maior o potencial de recompensa na carteira de valor, menor o risco.
No mercado de ações, o lucro vem quando o investidor nota uma discrepância entre o preço de um ativo e seu valor. Trata-se de enxergar valor onde os outros só viram preço.
Lucros, lucros, lucros
Nesse artigo, vamos tratar sobre o fundamento mais importante de uma empresa: os lucros. Uma empresa existe para gerar lucro de longo prazo aos seus acionistas. E só. As pessoas investem e empreendem com o objetivo de lucrar.
Porém, preste atenção “lucros de longo prazo”. O valor da empresa só diz respeito aos lucros de longo prazo. De nada adianta a empresa demitir funcionários para aumentar os lucros no próximo trimestre. Não é sobre isso que estamos interessados. Queremos que a empresa gere valor e aumente seus lucros de forma consistente nos próximos 10, 20 ou até 50 anos. Dessa forma, podemos até suportar uma redução dos lucros num trimestre, desde que nada tenha mudado em relação à capacidade futura da empresa de gerar lucros.
Dito isso, no longo prazo, o mercado de ações é como uma balança. Exatamente a balança mostrada no início desse capítulo. O valor sempre será mais importante que o preço. O valor fará o preço subir.
Essa tese pode ser confirmada facilmente ao comprar o crescimento dos lucros com o crescimento dos preços das ações para vários ativos. No longo prazo, os preços das ações seguem os lucros. E não há como ser de maneira diferente.
Portanto, afaste-se da multidão. Em vez de especular se tal ação vai subir ou vai cair, desligue-se das cotações. Preocupe-se com a estratégia daquela empresa. Preocupe-se se aquela empresa está concentrada em crescer e gerar lucros. É só isso.
Por que eu não investi em OGX?
Em 2011, um fundo de investimento em que eu trabalhava queria comprar um Powerpoint por R$6 bilhões. Era um powerpoint bonito, mas era só um powerpoint.
Continha inúmeras projeções, gráficos, bacias em que esperava encontrar poços de petróleo. Mas não tinha nada de presente. Eu levo meu dinheiro a sério demais para investir em algo que nunca gerou valor. Não compro expectativas. Eu compro realidade.
Na época, eu era apenas um estagiário, que teve a coragem de discordar de grandes gestores. Porém, eu estava confiante num princípio básico: “Preço é o que você paga. Valor é o que você leva.”
O Seu Próximo Desafio
A principal lição desse artigo é que o investidor deve procurar ativos de valor. Aproveite as quedas nas cotações para comprar ativos valiosos a um preço vil.
O próximo passo é aprender os principais fundamentos e como avaliar bem uma empresa. O valor é a base da análise fundamentalista, a escola que formou os maiores investidores de todos os tempos: Warren Buffett, Benjamin Graham, Philip Fisher, Peter Lynch, David Dreman, John Neff e John Templeton.
Esse conhecimento também vai funcionar para você.
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