Após 5 anos de sucessivos cortes da taxa básica de juros brasileira (a Taxa Selic), a pressão inflacionária forçou o Banco Central a voltar a subir a Selic, que agora está em 5,25% ao ano, e com perspectiva de aumento.
A Selic na mínima histórica, atrelada ao forte aumento da oferta monetária (devido aos programas de recuperação econômica) e à queda da produção durante a pandemia provocaram uma alta dos índices de inflação que foram vistos raras vezes no Brasil desde a virada do século. O IPCA e o IGP-M, por exemplo, acumulam altas de, respectivamente, 8,59% e 33,83%, nos últimos 12 meses.
Na tentativa de amenizar essa subida de preços, as últimas 4 reuniões do COPOM foram concluídas com aumentos de, pelo menos, 0,75% da taxa Selic.
Com a Selic a esse nível, muitos investidores se questionam se ainda vale a pena correr o risco da renda variável, uma vez que a renda fixa pós-fixada (atrelada à Selic) está apresentando maior atratividade. Nesse artigo, você aprenderá:
- O conceito de “custo oportunidade” e “taxa livre de risco”
- Onde investir durante o ciclo de alta de juros?
- Até onde vai a taxa Selic?
- Como fazer para se proteger nesse cenário.
Custo Oportunidade e Taxa Livre de Risco
Mas, primeiro, precisamos entender dois conceitos: “custo de oportunidade” e “taxa “livre” de risco”. O custo de oportunidade é tudo aquilo que abrimos mão ao fazer uma escolha. Considere um investimento de baixo risco que esteja pagando 5% ao ano. Ou seja, o custo de oportunidade para você abrir mão desse investimento é de um retorno de 5% ao ano. Se você for receber menos que isso em outro investimento, não valerá a pena.
Já a taxa “livre” de risco é a taxa de juros que apresenta o menor risco de uma economia e, supostamente, é o juro mínimo que deveríamos “exigir” em um investimento. Geralmente, a taxa básica de juros do país (no Brasil, a Selic) é considerada a taxa livre de risco. Para o mercado global, a taxa livre de risco considerada é a taxa básica de juros dos Estados Unidos.
Nos ciclos de baixas taxas de juros, o apetite por risco dos investidores aumenta, uma vez que, mesmo assumindo maiores riscos, é mais fácil atingir uma rentabilidade superior à da taxa livre de risco, o que naturalmente, leva a um aumento do fluxo de capital para o mercado de renda variável.
Já nos ciclos de alta de juros, o custo de oportunidade de investir em ativos de risco se torna maior, tendo em vista que é possível conseguir bons retornos investindo apenas na taxa livre de risco (no Brasil, esse retorno livre de risco é alcançado por meio de investimentos no Tesouro Selic ou em CDBs e fundos que garantam o 100% do CDI).
Onde investir durante os ciclos de alta do juros?
Sendo assim, entre os investimentos que costumam apresentar boas relações de risco vs retorno durante os ciclos de alta de juros, estão: a renda fixa pós fixada; empresas do setor financeiro (bancos e seguradoras); empresas com custos / insumos dolarizados e importadoras (uma vez que o real tende a se apreciar), como empresas do setor de alimentos, aéreas e logística portuária.
Nesse artigo eu separei 4 tipos de investimentos para se proteger da inflação, confira.
Já entre os investimentos que devemos ter maior cautela, estão: títulos pré-fixados; empresas de varejo e imobiliárias (dado o aumento do custo do financiamento para as famílias); empresas e setores que demandam alto nível de endividamento (dado que o custo da dívida tende a aumentar), como o de construção civil; empresas exportadoras (dado a tendência de apreciação do câmbio); e metais preciosos/ativos que não geram rendimento
Vale lembrar que cada empresa / ativo tem suas particularidades e que há dezenas de outros fatores, além da taxa básica nacional, que também afetam (dependendo, com ainda maior peso) o seu valor de mercado, que incluem desde fatores macro, como a taxa básica de outros países (principalmente a dos EUA), a política econômica em vigor, a segurança jurídica e o cenário internacional, à fatores micro, como o modelo de negócios da empresa, sua gestão, os diferenciais competitivos, a concorrência e os tipos de clientes.
Até onde vai a taxa Selic?
A expectativa é que a Selic suba até o ponto em que a inflação retorne a patamares “razoáveis”. Segundo o Relatório Focus, que compila a opinião das principais casas de pesquisa do Brasil, a expectativa é que na virada do ano, a Selic esteja na casa dos 7,25% ao ano, e que apenas em 2023, a Selic voltaria a cair.
Mas muito dependerá de outros fatores macro, como o desdobramento dos pacotes de estímulo, as reformas estruturais (como a tributária e administrativa), privatizações e as eleições em 2022.
Como investidores, é importante já nos prepararmos para a seguinte virada do ciclo, enquanto o custo de fazê-lo ainda está barato. Quando as taxas de juros começam a se estabilizar, aumenta-se a atratividade dos títulos pré-fixados, do mercado de renda variável como um todo, reservas de valor e até investimentos alternativos, como criptoativos.
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