Panorama de Mercado - Julho 2023

André Falcão, CGA
Economista
3/7/2023

Nesse relatório trouxemos nossa avaliação dos principais acontecimentos das últimas semanas envolvendo a economia e os mercados nacional e internacional. 

Cenário Internacional

A recessão nos EUA acontecerá ou não?

Contudo, os dados mais recentes mostram que o crescimento do emprego superou as expectativas e que o desemprego permanece baixo. Os relatórios de empregos contradizem as previsões feitas anteriormente. Algumas empresas estão cortando empregos, principalmente nos setores de tecnologia e mídia, mas os indicadores econômicos sugerem que muitas pessoas demitidas estão sendo rapidamente recontratadas.

A narrativa no mercado começa a mudar de receio para otimismo com o mercado americano. Mas, acreditamos que ainda é cedo para retirar a possibilidade de recessão do radar.

Historicamente, a economia americana sempre se orgulhou de manter a inflação sob controle, o que torna os títulos de longo prazo muito procurados, tanto por investidores americanos quanto estrangeiros. É natural que títulos de longo prazo ofereçam taxas de juros mais atrativas, uma vez que o dinheiro permanecerá investido por um período maior. No entanto, essa tendência só é válida para países desenvolvidos com inflação muito baixa. Em países com alta inflação, prevalece um cenário de desconfiança.

E é exatamente esse um dos maiores sinais que precedem crise na história dos EUA. Observe as seguintes “coincidências”. 

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Figura 1: Diferença em as taxas de 10 anos e 3 meses nos EUA

A  Figura 1 mostra um evento recorrente em países subdesenvolvidos, mas muito incomum nos EUA: a inversão da curva de juros. Essa curva mostra a diferença entre os juros dos títulos prefixados de 10 anos versus os de 3 meses. Desde 1985, quando essa curva começou a ser medida, todas as vezes que a diferença se tornou negativa, tivemos recessões logo em seguida.

Atualmente, estamos com essa diferença em um patamar mais negativo de toda a história. Esse é um dos indicadores que nos preocupa em relação aos EUA.

Dito isso, ainda vemos o cenário nos EUA com um balanço de risco desfavorável. Alguns outros fatores reforçam ainda mais a necessidade de cautela:

  1. Os efeitos dos juros são lentos: o FED subiu os juros nos EUA em uma velocidade impressionante, deixando a taxa básica de juros por lá em um patamar equivalente ao período antes da crise de 2008. Os efeitos dessa restrição monetária não são imediatos, podem demorar meses ou até mesmo semestres para ocorrer. Ainda é cedo para vermos os efeitos totais dos juros em frear a atividade econômica.
Figura 2: Fed Funds Rate: Taxa de Juros básica nos Estados Unidos

 

  1. O Tesouro americano retirará cerca de 1 trilhão de liquidez do mercado: Para repor o seu caixa após o atraso na aprovação do aumento do teto da dívida pública americana, o tesouro prepara uma emissão de dívida colossal, o que irá retirar bastante dinheiro do mercado, por se tratar de títulos novos, eles irão competir o dinheiro dos investidores que poderiam aplicar em empresas ou outros títulos.
  2. Os valuations das empresas americanas, ainda estão bem acima da sua média e ainda mais acima que os das empresas brasileiras. A média histórica de Preço/Lucro do SP500 (principal índice de ações americano) é de 16x, enquanto o patamar atual é de 25x. Em contraste, o múltiplo Preço/Lucro do Ibovespa, principal índice de ações brasileiro, é de 10x neste mês, indicando uma diferença significativa em relação ao mercado americano.

Seguimos sem aumentar a exposição no Estados Unidos e monitorando a evolução dos pontos citados anteriormente.

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Motim na Rússia

Durante 24 horas intensas, a Rússia foi abalada por uma aparente insurreição, envolvendo Yevgeny Prigozhin e seu grupo de mercenários chamado Wagner, que ameaçaram uma marcha contra Moscou. Apesar da rápida resolução da crise, com a migração de Prigozhin para a Bielorrússia. A imagem do Presidente russo Vladimir Putin ficou, sem dúvidas, abalada.

No caso específico do incidente envolvendo o grupo Wagner, fica evidente como as tensões e rivalidades dentro da hierarquia militar russa podem afetar a estabilidade do país. Prigozhin, que desempenhou um papel crucial na campanha militar da Rússia na Ucrânia, entrou em conflito com os chefes militares devido à falta de equipamentos e munições para seus mercenários. Essas divergências culminaram em uma marcha liderada por Prigozhin, que foi interpretada como uma ameaça ao governo

O episódio expôs as fragilidades do controle de Putin e destacou a existência de tensões internas dentro do governo russo. O que pode, em uma primeira vista, ser positivo para o lado ucraniano da guerra, já que o grupo Wagner era uma das forças mais organizadas que lutavam pelo lado russo.

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Cenário Brasileiro

Comunicado do Copom – quando Selic começará a cair?

O último comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central no dia 21/06/23, a falta de clareza em relação à redução da taxa básica de juros, a Selic, gerou decepção no mercado financeiro. A expectativa era de uma sinalização mais clara por parte do Copom, porém, o órgão adotou um tom duro em seu comunicado, destacando a necessidade de parcimônia no controle da inflação e vinculando qualquer corte da Selic aos dados econômicos.

Apesar da decepção inicial, ainda acreditamos que a possibilidade de cortes na próxima reunião do Copom em agosto está mantida. 

Em uma nova análise com base na Ata do dia 27/06/2023, documento que traz em mais detalhes sobre a visão da autoridade monetária, revela que a porta está aberta para futuros cortes na Selic, desde que as expectativas sejam ancoradas e as metas de inflação sejam mantidas.

Em termos práticos, o Copom parece ter dado uma mensagem clara de que, para ser possível garantir o início do ciclo de alta de juros, é preciso que as metas e inflação não sejam alteradas e que a regra fiscal seja, enfim, aprovada.

Essa mensagem parece ter sido ouvida, em 29/06/23, o CMN (Conselho Monetário Nacional) manteve a meta de inflação para 2024 e 2025 inalterada, retirando um receio que estava no radar do mercado e do Banco Central em aumento da meta, que sinalizaria maior descaso com a inflação e poderia adiar ainda mais a redução da Selic.

A novidade está que, a partir de 2026, a meta passará a ser dentro um “horizonte de tempo” ao invés de respeitar o ano-calendário. Isso dá mais liberdade ao Banco Central ao reagir as pressões inflacionárias mais pontuais, mas pode, também, acabar permitindo uma resposta mais branda e ineficiente no futuro em caso de outros picos de inflação.

O cenário base continua de que o início do corte de juros deve começar em agosto desse ano, data da próxima reunião do Copom. Contudo, a expectativa é de um ritmo lento, provavelmente com um com apenas 0,25 p.p. de redução a princípio.

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Home Bias: O principal viés do mercado brasileiro

Os investidores brasileiros costumam acreditar que os investimentos no mercado local são impulsionados principalmente por fatores internos, enquanto os fatores externos são frequentemente desprezados. Essa percepção limitada pode afetar a tomada de decisões de investimento e levar a perda de oportunidades.

Uma das razões para esse viés é a tendência dos investidores brasileiros em se concentrarem excessivamente em questões políticas e econômicas domésticas. O cenário político no Brasil pode ser volátil, com eleições, mudanças de governo e escândalos políticos frequentes. Esses eventos muitas vezes geram incerteza e impactam o mercado local.

Além disso, a história econômica do Brasil também influencia o viés dos investidores. O país já passou por períodos de alta inflação, instabilidade econômica e crises financeiras, o que pode levar os investidores a se preocuparem principalmente com os fatores internos e acreditarem que o mercado é movido apenas por esses fatores.

No entanto, é importante reconhecer que os mercados financeiros são influenciados por uma ampla gama de fatores, tanto internos quanto externos. No mundo globalizado de hoje, os mercados estão interligados e os eventos em outros países podem ter um impacto significativo nos mercados locais. Fatores como políticas econômicas de outros países, indicadores econômicos globais e crises financeiras em outros lugares do mundo podem afetar diretamente os mercados brasileiros.

Figura 3: Desempenho do Peso Mexicano, Real e Euro frente ao dólar em 2023

Por exemplo, em 2023 o real se apreciou cerca de 12% frente ao dólar, embora seja comum que muitos atribuíam esse efeito aos acontecimentos políticos recentes. Na verdade, o Brasil, assim como o México, que teve sua moeda valorizada em quase 14% em relação ao dólar no mesmo período, fazem parte de um grupo seleto de países com economia em desenvolvimento que estão com juros a níveis bem superiores aos dos Estados Unidos e Europa, vide a Figura 4.

Figura 4: Taxa de Juros dos Países Selecionados

Ao adotar uma perspectiva mais ampla e incluir fatores externos em suas análises, os investidores brasileiros podem se beneficiar de uma visão mais completa do mercado, identificar oportunidades de investimento que podem ser influenciadas por eventos globais e tomar decisões mais informadas e estratégicas. A compreensão dos fatores internos e externos em conjunto proporciona uma visão mais equilibrada e precisa do mercado financeiro brasileiro.

Nesse sentido, reforço que o cenário otimista abaixo, apresentado no último relatório, continua sendo o mais provável. Um arcabouço fiscal e uma reforma tributária de qualidade são essenciais para a concretização desse cenário e, sem dúvidas, seriam bastante positivos para o mercado de ações. 

Contudo, o peso do cenário externo, onde o FED consegue controlar a inflação e não realizará novos aumentos de juros, e interno, onde o Bacen cortará juros por fatores técnicos, são ainda mais relevantes que o noticiário político das próximas semanas.

Figura 5: Elaboração Própria

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